São Paulo, quarta-feira, 6 de agosto de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Prefeitura terá que explicar preços

DA REPORTAGEM LOCAL

O responsável pela checagem dos preços pagos pela Prefeitura de São Paulo terá que explicar hoje ao Ministério Público por que a Secretaria Municipal do Abastecimento pagou mais do que o preço de mercado pelo frango que comprou entre agosto de 1996 e fevereiro deste ano.
Marcelo Daura, da Comissão Municipal de Preços e Serviços, tem depoimento marcado para as 14h30 de hoje.
No período citado, a prefeitura comprou coxas e sobrecoxas de frango da empresa A D'Oro. Ela pertence ao cunhado do ex-prefeito Paulo Maluf (PPB), Fuad Luftalla, e ganhou o direito de fornecer por R$ 1,73 o quilo do produto após a Sadia ter pedido aumento no preço que cobrava.
A A D'Oro era a segunda colocada na concorrência pela distribuição, que havia começado três meses antes, e assumiu o negócio.
O problema do preço consiste no fato de que pelo menos em uma rede de supermercados, a Pão de Açúcar, o preço cobrado foi menor -segundo o promotor Alexandre de Moraes.
Na realidade, em média 40% menor. Em fevereiro deste ano, a diferença atingiu seu topo: o quilo da coxa e sobrecoxa saía por R$ 1,15 nos supermercados e R$ 1,73 na venda para a prefeitura.
"O mais caro cobrado no mercado, no período, foi R$ 1,70. Ainda assim mais barato que o preço da prefeitura", disse o promotor.
A comissão presidida por Daura tem por obrigação acompanhar a evolução dos preços e, no caso de haver queda no valor cobrado pelo mercado, adequar o valor à concorrência.
Daura foi procurado ontem durante todo o dia, não ligando de volta para a reportagem.
Após seu depoimento, caso Daura compareça, será a vez da primeira-dama da capital, Nicéa Pitta. Ontem ela não foi localizada para dar entrevistas sobre o caso.
Ela terá que explicar sua passagem pela A D'Oro. Nicéa e o atual prefeito, o afilhado político de Maluf Celso Pitta (PPB), já disseram que ela foi estagiária não-remunerada da empresa.
Em ocasiões anteriores, quando justificava a compra de um carro colocada sob suspeita pela Polícia Federal, Nicéa dizia que tinha ganhado dinheiro vendendo frango para restaurantes finos.
O Ministério Público crê que tenha havido favorecimento à A D'Oro por não ter ocorrido uma segunda concorrência quando a Sadia saiu do negócio.
Além disso, um favorecimento duplamente familiar: a empresa Obelisco, de propriedade da mulher de Maluf, Sylvia, forneceu quase toda sua produção de frangos vivos à A D'Oro quando esta abastecia a prefeitura.
Pitta, em entrevista anteontem, defendeu a legalidade do negócio.

Texto Anterior: Presidente do IBGE defende contrato
Próximo Texto: Agenda liga Wagner Ramos a empreiteiras
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.