São Paulo, quarta-feira, 6 de agosto de 1997
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Agenda liga Wagner Ramos a empreiteiras

LUIS HENRIQUE AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

A agenda de telefones de Wagner Baptista Ramos reforça a conclusão do relatório da CPI dos Precatórios elaborado pelo senador Roberto Requião (PMDB-PR) de que as empreiteiras tiveram papel importante no esquema de emissão irregular de títulos públicos.
Ramos, ex-coordenador da Dívida Pública da Prefeitura de São Paulo, tinha em sua agenda telefones do escritório, da casa e de celulares de executivos das principais empreiteiras que executavam obras para as prefeituras que ele ajudou a emitir títulos.
Algumas dessas empreiteiras também contribuíram para a campanha do ex-prefeito Paulo Maluf e do atual, Celso Pitta.
Ela revela ainda a ligação de Ramos com o coordenador da caixa das campanhas de Maluf, Calim Eid, cujo nome aparece duas vezes.
Wagner Ramos e Eid se contradizem ao explicar a presença do nome do malufista na agenda.
"O Wagner eu conheço há muito tempo, dessa campanha do Paulo (Maluf) e de outras também", disse Eid à Folha.
"É mentira, a única campanha que participei foi a do (Eduardo) Suplicy em 92", rebate Ramos, que "não lembra" por que tinha o telefone de Eid.
Constam da agenda de Ramos as empreiteiras Badra, CGK, Camargo Corrêa, CBPO, Etesco e OAS.
O substituto de Celso Pitta na Secretaria das Finanças, José Antônio de Freitas, que foi chefe de Ramos até ele deixar a prefeitura, diz que a Coordenadoria da Dívida Pública não tem relação com empreiteiras e que não sabe por que os telefones estão na agenda.
Segundo Wagner Ramos, a presença dos telefones de empreiteiras em sua agenda se justifica porque "elas ligavam para saber sobre a capacidade de pagamento da prefeitura e sobre a obtenção de empréstimos externos que seriam usados para pagar as obras".
A justificativa de Ramos não explica a presença, na agenda, de diversos telefones da CBPO (do Grupo Odebrechet) de Campinas, cidade cuja prefeitura ele ajudou a emitir títulos -e que é suspeita de ter usado o dinheiro obtido com a emissão para pagar a CBPO.
Ramos diz que não se lembra por que os telefones da filial campineira estão na sua agenda.
Outro exemplo é a presença dos telefones do gerente da OAS para a região metropolitana de São Paulo, César Uzeda, ao lado do nome da cidade de Guarulhos, onde Ramos também ajudou na emissão de títulos. O telefone de Uzeda está ao lado do nome do gerente comercial da OAS, André Cincurá.
"Eu ligava para ele para saber se o dinheiro de obras da Prefeitura de São Paulo estava liberado. Eu também cuido delas", diz Cincurá.
Segundo Uzeda, ele teve contato apenas uma vez com Ramos. "Ele prestou uma assessoria informal na área tributária para a empresa."
Logo abaixo do telefone de Cincurá e de Uzeda, da OAS de Guarulhos, está o do Banco Pontual. Está na letra "a", e não na "b" ou "p". Foi esse banco que colocou no mercado os títulos de Guarulhos, com a ajuda de Ramos. O dinheiro serviu para pagar obras da OAS.
Cópia da agenda que Ramos usava em seu escritório na Coordenadoria da Dívida Pública foi enviada à CPI dos Precatórios. O vereador José Eduardo Cardozo (PT) recebeu cópia e vai usá-la para fundamentar novo pedido de abertura de uma CPI em São Paulo.
"A polícia, o Ministério Público e a Câmara precisam aprofundar as investigações", diz Cardozo.

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