São Paulo, sábado, 9 de agosto de 1997
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Sem-terra posa nua por R$ 20 mil

MST não quer vinculação com as fotos

DA REPORTAGEM LOCAL

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) não quer vinculação de sua imagem com as fotos que a sem-terra Débora Cristina de Moura Rodrigues, 29, fará para uma revista masculina.
Segundo Gilmar Mauro, da coordenação nacional do MST, há uma cláusula no contrato de Débora que veta o uso de símbolos do movimento.
O diretor de redação da "Playboy", Ricardo Setti, revista que convidou Débora para posar nua, nega que a exigência exista, mas afirmou que a revista não pretende fazer qualquer alusão ao assunto.
"A locação vai ser urbana. Não esconderemos que ela é do movimento, mas não faremos nenhuma referência", disse.
Lideranças do MST afirmam que a decisão sobre as fotos é pessoal. "Isso não tem nada a ver com o MST. Ela não é uma liderança e o movimento é formado por pessoas, não por anjos. A direção não discutiu nem vai discutir esse assunto", declarou Mauro.
"Se lá no Pontal do Paranapanema (SP) eles quiserem, poderão expulsá-la. Mas não vejo motivo para isso."
Quando assinou o contrato com a revista, Débora estava afastada do MST, a pedido de um namorado. Ela duvida, entretanto, que possa ser punida.
"O movimento é maior do que isso. Sua preocupação é a reforma agrária. Vou continuar atuando como antes", diz ela, que já participou de invasões.
Na opinião do líder José Rainha Júnior, seria um "absurdo" se algo acontecesse com a sem-terra por causa das fotos.
Ele afirma não ser um consumidor frequente da revista, mas confessa: "Nesse caso, por curiosidade, vou ver sim".
R$ 20mil
O cachê de R$ 20 mil que Débora receberá foi acertado depois de alguma negociação.
Segundo o diretor de redação da "Playboy", a primeira proposta feita por Débora foi considerada "acima" do esperado. "Mesmo assim, pagamos mais do que imaginávamos", disse ele, que não quis revelar o valor proposto pela sem-terra.
Débora afirma que aceitou o convite, feito pela primeira vez no final do ano passado, por questões financeiras.
"Recusei antes por causa de um namorado. Mas agora estou sem emprego e terminei o relacionamento. Dizem que R$ 20 mil é mixaria, mas para mim é muito. Vou comprar uma casa para meus dois filhos", disse ela, que já foi motorista de ônibus e de caminhão.
Chamada de musa dentro do MST e descoberta por meio de uma reportagem de jornal, Débora diz que já foi mais bonita. "Mas não estou de jogar fora", disse, entre risos.

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