São Paulo, sábado, 9 de agosto de 1997 |
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Ruralistas querem o Exército no campo
PATRICIA ZORZAN
"A situação é muito grave. Vivemos sob a assombração das invasões. Se nada for feito, vamos ter uma tragédia. A reforma agrária vai ser manchada de vermelho", declarou Narciso Clara, presidente do Sindicato Nacional dos Produtores Rurais (Sinapro) e autor da proposta. A idéia, segundo Clara, foi formalizada anteontem em audiência com o secretário de Planejamento de Ações Nacionais de Segurança Pública, general Gilberto Serra. A medida tem ainda o apoio do presidente da UDR (União Democrática Ruralista), Roosevelt Roque dos Santos. "A autoridade tem de ser exercida. Onde a polícia não tem condições de dar segurança, o Exército deve estar presente", afirmou Santos. Entre as áreas que necessitariam de intervenção, os ruralistas destacam o Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Paraná, Pernambuco, Paraíba, Minas Gerais, Ceará e a região do Pontal do Paranapanema (extremo de São Paulo). "Estão ocorrendo saques e roubos no Mato Grosso do Sul. A situação tem se mostrado incontrolável. Se a PM lá não tem competência, que aja o Exército", declarou o presidente da UDR. Na segunda-feira, sem-terra mataram 42 cabeças de gado em uma fazenda invadida pelo MST em Itaquiraí, em Campo Grande (MS). Na avaliação de Narciso Clara, a associação entre PMs e membros do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) nas manifestações dos últimos dias "desestabilizou" a autoridade da Polícia Militar. "Foi uma mobilização maquiavélica para cima das PMs. O MST conseguiu desestabilizar até o comando da polícia. Somos obrigados a contratar seguranças. Agora só com as Forças Armadas", disse. Os ruralistas, que na semana passada fundaram a Frente Nacional da Produção, recorrem à Constituição para justificar a interferência do governo federal. O artigo 34 da Carta diz que "a União não intervirá nos Estados nem no Distrito federal, exceto para pôr termo a grave comprometimento da ordem pública", entre outros problemas. "O governo precisa ser firme. A presença das Forças Armadas é a única saída para que se possam manter a soberania e a ordem", afirmou Clara. De acordo com ele, a receptividade do governo em relação à proposta foi "muito boa". "O general disse que falaria com o ministro Iris Rezende (Justiça) e que analisaria mais profundamente nosso pedido. A resposta virá nos próximos dias." A assessoria de imprensa da secretaria informou desconhecer o encontro. Clara ainda disse acreditar que a presença do Exército no Nordeste é o "primeiro indício concreto" de que a intervenção pode ocorrer. "Essa balbúrdia vai ter fim." Texto Anterior: TSE quer aperfeiçoar apuração de voto manual para evitar atrasos Próximo Texto: Sem-terra posa nua por R$ 20 mil Índice |
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