São Paulo, sábado, 9 de agosto de 1997
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Lula propõe invasão do Palácio do Planalto

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) propôs ontem um novo alvo na onda de invasões que o país vive.
"Os governadores têm que invadir o Palácio do Planalto para pedir dinheiro para os Estados, da mesma forma que os sem-terra invadem terra e os sem-teto invadem casa vazia", disse Lula.
O líder petista fez a afirmação a respeito do comportamento do governador do Espírito Santo, Vitor Buaiz, que segunda-feira deve deixar o PT.
Para Lula, Buaiz deveria encabeçar um movimento de oposição ao presidente Fernando Henrique Cardoso pela perda de arrecadação causada com a isenção do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre as exportações de produtos básicos e semi-elaborados.
Além da queda na arrecadação, as dificuldades financeiras dos governadores se agravaram, nas últimas semanas, depois dos aumentos ao funcionalismo decorrentes dos movimentos de policiais.
"O Vitor tem que entender que o Fernando Henrique não vai salvá-lo porque gosta dele. O candidato a governador do presidente é o Paulo Hartung (PSDB)", disse.
Com a frase, Lula externou o sentimento dominante mesmo entre as correntes moderadas do PT: entre as razões da saída de Buaiz da legenda está o bom relacionamento do governador capixaba com o presidente da República.
Buaiz confirmou ontem, por intermédio de sua assessoria, que estará em São Paulo na segunda-feira para combinar a saída ou, hipótese mais remota, um licenciamento do partido.
A crise entre o governador e o partido foi detonada, principalmente, pela oposição da bancada do PT na Assembléia Legislativa do Espírito Santo aos projetos de Buaiz de privatização e de enxugamento da máquina pública.
"Por causa da briga, a saída do Vitor é boa para ele e o partido", afirmou Lula, mesmo admitindo que o episódio terá reflexo negativo na opinião pública.
"Não dá para suportar tanto tempo essa situação e vamos conversar sobre uma separação amigável, não-litigiosa com o Vitor."
A "separação amigável" proposta por Lula estabelece que Buaiz não sairia criticando o PT e, em troca, tentaria se coibir declarações contra o governador.
Já dando como certa a saída de Buaiz, Lula insistiu que faltou ousadia ao governador para "enfrentar" FHC. "A postura passiva dele (Buaiz) não levou a nada."
Embora não conste como ponto de pauta, a crise entre Buaiz e o PT capixaba deve ser analisada na reunião de hoje do Diretório Nacional do partido, em São Paulo.
Os dirigentes petistas querem evitar uma saída em massa dos seguidores de Buaiz, que representam no Estado a ala moderada da agremiação. Buaiz perdeu recentemente a convenção estadual para setores mais radicais do petismo.
O relatório da comissão de sindicância interna que investigou o caso Cpem será submetido hoje ao diretório.

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