São Paulo, sábado, 9 de agosto de 1997
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O notebook do Zagallo e seleção do Ademir

MATINAS SUZUKI JR.
DO CONSELHO EDITORIAL

Meus amigos, meus inimigos, mansamente, o Cruzeiro está chegando lá, para ser, mais do que nunca, o Cruzeiro do Sul.
*
O velho Lobo do fut Zagallo será, para sempre, um dos personagens mais interessantes do futebol brasileiro.
Turrão, teimoso, ranzinza, cabeça dura, ele, no entanto, inesperadamente, muda de opinião, às vezes, da maneira mais intrigante.
É assim com esquemas táticos, é assim com jogadores.
Agora, o velho Lobo derrubou uma das suas mais arraigadas convicções, a de cético em relação aos ganhos de eficiência que a informática poderia dar ao seu trabalho.
Por estar desatualizado nos seus métodos de trabalho (o que não significa que o Brasil não pode ser campeão sob a sua gestão, pois isso é uma outra questão) o velho Lobo, por exemplo, quando vai dar uma conferência internacional, decepciona e dá vexame, como ocorreu agora na Coréia.
Ele não tem nada a acrescentar ao planejamento e aos trabalhos mais modernos que existem no futebol atual.
Mas, eis que o velho Lobo vai às compras e, conhecido pão-duro, paga US$ 3.650,00 por um notebook que deverá ajudá-lo a sistematizar as suas idéias sobre o futebol.
Isso mesmo, Zagallo, nunca é tarde para se atualizar. Agora, para não perder o hábito de ser cri-cri, lembro que o limite na Alfândega para todo brasileiro é de US$ 500.
Vamos ver como o técnico da seleção brasileira, que precisa ser um exemplo para o país, e a fiscalização alfandegária se comportarão na volta da seleção ao Brasil. A conferir.
*
A coluna, emocionada e honrada, apresenta hoje a seleção dos jogadores mais elegantes escolhida por um dos membros da escola dos divinos, um dos raríssimos jogadores a criar um estilo próprio de jogar futebol que ficará para sempre.
Eis a seleção dos mais elegantes escolhida por Ademir da Guia, ou melhor, pelo Ademirável da Guia, como disse um dos nossos poetas:
Gilmar, Djalma Santos, Domingos da Guia, Beckenbauer (o único estrangeiro escolhido) e Newton Santos; Falcão e Ademir da Guia (ele pode, senhores, ele pode tudo); Garrincha (pelo estilo diferenciado), Didi, Pelé e, curiosamente, na ponta-esquerda, Rodrigues (ou o Mário do Corinthians. Segundo Ademir, que não os viu jogar, eles eram uma lenda das gerações anteriores).
Bem, e o que dizer de Ademir, depois que João Cabral escreveu os seguintes versos: "Ademir impõe com seu jogo/ o ritmo do chumbo (e o peso),/ da lesma, da câmara lenta, do homem dentro do pesadelo./ Ritmo líquido se infiltrando/ no adversário, grosso, de dentro,/ impondo-lhe o que ele deseja,/ mandando nele, apodrecendo-o./ Ritmo morno, de andar na areia/ de água doente de alagados,/ entorpecendo e então atando/ o mais irrequieto adversário".
Não se trata de um poema laudatório vocabuloso e fácil de fazer, desses que existem aos montes por aí: João Cabral, talvez o maior poeta vivo do mundo, viu no futebol de Ademir um peso, uma dimensão do ritmo grave, que seria impossível extrair de qualquer outro jogador. Precisa mais?

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