São Paulo, sábado, 9 de agosto de 1997 |
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Evelyn Waugh satiriza educação em romance
JOSÉ GERALDO COUTO
Escrito em 1928, dois anos antes de Waugh converter-se ao catolicismo, é talvez seu livro mais divertido. Conta a história do jovem estudante de teologia Paul Pennyfeather, que vê dizimadas suas pretensões de tornar-se padre quando, obrigado por um colega a andar sem roupa pelo campus, acaba expulso do tradicional Scone College. A partir dessa queda original -espécie de expulsão do paraíso da respeitabilidade-, Paul rola ladeira abaixo na escala social. Dá aulas numa estapafúrdia escola particular do País de Gales, envolve-se sem saber com o tráfico de prostitutas para a América do Sul, vai parar na cadeia, é dado como morto, muda de nome etc. -numa sucessão de eventos tão absurda quanto hilariante. Como se fosse o Cândido voltairiano inserido numa novela picaresca, Paul Pennyfeather vai revelando em sua trajetória, sem se dar conta, toda a estrutura social e moral que o cerca. Sarcasmo Nada escapa ileso do sarcasmo de Waugh. A religião, a escola, a aristocracia, a polícia, o sistema carcerário, a imprensa -tudo é submetido a uma sátira feroz. Mas não há nenhum discurso moralizante, nenhum didatismo redentor, nenhuma estridência que prejudique a fluência do texto. Pelo contrário: o tom de Waugh é de uma leveza notável, como se seu único objetivo fosse o de buscar e proporcionar diversão. Esta é alcançada graças não apenas ao inusitado das situações, mas principalmente à maneira seca, irônica e inesperada como são expostas e articuladas. Os diálogos cortantes, as elipses precisas, a revelação sutil de realidades que escapam ao protagonista dão ao romance um ar maroto de farsa teatral, quase de chanchada cinematográfica -sem as vulgaridades que às vezes comprometem esses gêneros. Essa ligeireza jocosa está presente até mesmo nos nomes atribuídos aos personagens. Os mais saborosos são os de lady Circumference e seu filho Tangent. Evelyn Waugh (autor também dos romances "Um Punhado de Pó", "Furo" e "Memórias de Brideshead", além de ensaios e livros de viagem) só tinha 25 anos quando escreveu "Declínio e Queda". Talvez por isso o livro seja tão pleno de vitalidade e de liberdade criativa. Começar por ele a descoberta da literatura desse singular escritor britânico pode ser uma ótima pedida. Livro: Declínio e Queda Autor: Evelyn Waugh Tradução: S. Duarte Preço: R$ 26 (234 páginas) Texto Anterior: Augusto dos Anjos é lançado na Alemanha Próximo Texto: Sinfônica não consegue preencher vagas Índice |
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