São Paulo, sábado, 9 de agosto de 1997
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PRAGMATISMO CAMBIAL

Diz-se que o hábito faz o monge. No caso de Gustavo Franco, indicado presidente do Banco Central, o ditado talvez não se aplique.
Aparentemente seguindo os conselhos que lhe teriam sido dados pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan, supostamente recomendando-lhe a sujeição ao laconismo típico dos presidentes de bancos centrais, Franco foi mais cuidadoso em suas manifestações, durante sabatina no Senado.
Conhecido pelo radicalismo de suas posições, sobretudo pela defesa até mesmo doutrinária da política cambial, habituado a reagir com energia aos críticos, o novo presidente do BC aparentemente mudou.
Uma palavra resume o enigma que Franco pretende manter em sua gestão à frente do BC: pragmatismo.
Aliás, é importante reconhecer que, a rigor, a política econômica, sobretudo no que se refere às contas externas, tornou-se cada vez mais pragmática nos últimos meses, na medida mesma em que se constatavam as dificuldades e os riscos de convivência com déficits crescentes no comércio e na conta corrente.
O pragmatismo, como filosofia de vida, pode ser traduzido pela máxima de que toda idéia ou pensamento, todo conhecimento resultam da experiência humana e devem ser subordinados aos imperativos da ação. É por definição o oposto do dogmatismo.
Como agirá um Gustavo Franco menos dogmático e mais pragmático? Até onde prevalecerão as considerações políticas em suas decisões à frente de um Banco Central sem qualquer sinal de independência em relação à Presidência da República?
O pragmatismo, filosofia respeitável, tem um primo pobre e sem caráter, o casuísmo. Os governantes brasileiros muito raramente vêm sabendo diferenciar ambos.
Churchill dizia que em política cambial não se mexe, até que ela seja alterada. O novo presidente do BC, pragmático, parece iniciar sua gestão sob o império desse princípio.

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