São Paulo, sábado, 9 de agosto de 1997
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REPRESSÃO E EDUCAÇÃO

A inconsistência de certas políticas públicas sociais no país pode produzir distorções que, em certos casos, beiram a insensatez. É o que se constata a partir de dados orçamentários obtidos pela Folha junto à Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem), Secretaria da Administração Penitenciária e Secretaria de Estado da Educação.
Considerando apenas as duas principais unidades da Febem que abrigam menores infratores no Estado de São Paulo, o custo mensal médio para a manutenção de cada interno na instituição (R$ 1.177,25) é 24 vezes maior que o investimento mensal por aluno da rede estadual de ensino. Já o gasto mensal por detento do sistema carcerário estadual (R$ 570) supera em 11 vezes o que se aplica a cada estudante da rede estadual.
Mesmo considerando as diferenças entre as necessidades específicas dos atendimentos oferecidos à população em cada caso, fica claro que as políticas públicas estaduais ainda investem muito mais na repressão à marginalidade social do que na prevenção aos males que a provocam.
Poucos hoje ainda duvidam de que o aprimoramento da educação no país é um dos principais meios para fazer frente à exclusão social. Ainda que se questione a eficácia com que as verbas destinadas à educação chegam às escolas, seria de se esperar que o investimento nesse setor fosse, no mínimo, igual ao que se aplica no "fim da linha", isto é, em atividades que lidam com a marginalidade como um fato consumado.
A principal agravante para essa distorção é que há muito tempo já se duvida da eficiência da Febem (assim como do arcaico sistema prisional brasileiro). Enquanto isso, projetos de auxílio pecuniário às famílias carentes, condicionados à manutenção das crianças na escola, infelizmente ainda são raros no país.
Tal inversão de prioridades é inaceitável. "Estamos enxugando o chão com a torneira aberta", diz o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Menor. A prevenção ainda é o melhor remédio, sobretudo quando a "cura" mostra-se problemática.

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