São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997 |
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As sem-roupa
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Posar para a "Playboy" transformou-se em atitude trivial, comum, "profissional": um bom cachê, um carro importado, uma viagem a qualquer lugar no exterior e, pronto, tira-se a roupa. Mamãe apoiou desde o início, papai resistiu um pouco, mas ficou lindo e muito artístico. Dependendo do interesse despertado pela escolhida, seguem-se a cada edição os conhecidos comentários masculinos: "Gostei"; "Não gostei"; "Muito magra"; "Não aparece nada". Tudo isso perfeitamente incorporado à vida nacional como mais um sinal de liberalismo de nossa informal sociedade. Adepto que sou do antifeminismo de Camille Paglia, não faria aqui o papel de uma dessas chatas de galocha do moralismo de saias: criticar a revista, dizer que as mulheres se "prostituem", que deveriam se recusar a posar etc. Cada uma que faça o que bem entender de seu corpo, inclusive a sem-terra que quer virar sem-roupa e enfrenta a patrulha stalinista dos companheiros. Mas fico imaginando como uma situação dessas tão normal, tratando-se de mulheres, seria recebida se os retratados fossem homens. Imagine se tivéssemos um arquivo de nus masculinos semelhante ao que a "Playboy" já reuniu no campo feminino. E depois os cartazes de rua e os comentários das leitoras: "Fraquinho"; "Médio", "Barrigudo"... Parece estranho? Nem tanto. Dizem que o estímulo visual não é o forte das mulheres. Não será isso mais um preconceito? Aparentemente o interesse feminino por imagens de homens nus está crescendo. A homepage do Brad Pitt, por exemplo, é um estouro -ok, descontemos os gays. Mas, ao contrário, não seria esse interesse -se é que ele existe- uma nova forma de "machismo"? Uma "masculinização" da percepção erótica feminina? Não sei. Talvez alguma mulher possa responder numa daquelas enormes entrevistas da "Playboy". Texto Anterior: Rede católica tem crescimento recorde Índice |
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