São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997 |
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Mais de 500 mil mudam de bairro em SP
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
Foi um período de transformação radical na fisionomia da cidade: 57 dos 96 distritos paulistanos perderam habitantes enquanto outros, como o longínquo Anhanguera, chegaram a dobrar seu número de moradores entre 91 e 96. A maioria das razões dessa migração interna está relacionada a processos econômicos. Vão da desindustrialização ao investimento em casas para alugar nos bairros de classe média. Hoje boa parte delas está vazia porque o aluguel subiu demais e o locatário mudou. A explicação mais clássica para esse movimento centrífugo da população é o encarecimento progressivo do custo de moradia nas regiões centrais, que expulsa os pobres para áreas cada vez mais periféricas. À medida que o centro se expande, as regiões próximas ficam mais visadas para o uso comercial, o que aumenta o valor do imóvel. O custo de vida mais alto obriga as pessoas a mudarem para áreas distantes, diz José Marcos Pinto da Cunha, do Núcleo de Estudos de População (Unicamp). Isso explica, por exemplo, porque regiões consideradas periféricas até há poucos anos começaram a perder população. Maior distrito paulistano até 1991, Sapopemba perdeu 2.700 moradores nestes cinco anos e caiu para 2º lugar. Foi desbancada pelo Grajaú, distrito que incorporou quase 80 mil novos moradores. O deslocamento foi maciço, como se a população dos Jardins tivesse mudado de bairro nos últimos cinco anos. Os efeitos negativos são proporcionais: grande parte das novas moradias estão em áreas sem infra-estrutura urbana, sem transporte ou mesmo ilegalmente instaladas em regiões junto a represas que fornecem água para a cidade. "Está na hora de repensar o planejamento e os investimentos na cidade", diz Sueli Ramos Schiffer, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Ela coordena um grupo de pesquisa que está montando um banco de dados sobre São Paulo. Para Sueli, o grande desafio paulistano no próximo século é promover a renovação das áreas semi-abandonadas próximas ao centro, para suprir a carência de moradias de baixa renda. Ela parte do cálculo de que é mais barato recuperar áreas que já têm infra-estrutura urbana do que construir ruas e postos de saúde em regiões novas e distantes. Isso implica, entretanto, um giro de 180 graus na tradição da cidade. O que tem regido as transformações paulistanas é a lógica dos grandes empreendimentos imobiliários que mudam o centro da cidade de lugar de tempos em tempos ou a inércia da renovação natural dos espaços urbanos. Exemplo dessa renovação é o crescimento do setor de serviços. Sueli Schiffer explica que pequenos novos negócios, como escritórios de consultoria e restaurantes por quilo, costumam ocupar imóveis antes destinados a residências. Daí, por exemplo, o êxodo de 14 mil moradores do Jardim Paulista ou de 19 mil do Itaim Bibi nos últimos cinco anos. No caso dos mais recentes empreendimentos imobiliários, lançados em áreas como a da av. Luiz Carlos Berrini, o que ocorre são, diz Sueli, "impactos das atividades voltadas à internacionalização da economia". É o efeito da globalização em nível municipal: casas dão lugar a bancos ou instituições financeiras que administram investimentos estrangeiros nos mercados emergentes. Texto Anterior: Família contribui para equilíbrio Próximo Texto: Modelos preferem solidão a sair com homem 'galinha' Índice |
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