São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997
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Viúvas de taxistas invadem a praça

JOÃO QUARESMA
repórter-fotográfico
OTÁVIO CABRAL

JOÃO QUARESMA; OTÁVIO CABRAL
DA REPORTAGEM LOCAL

Paulistanas herdam táxi e assumem o volante

A violência urbana e o trânsito caótico de São Paulo estão fazendo crescer uma nova categoria profissional: as mulheres taxistas.
Levantamento feito pelo Sindicato dos Taxistas de São Paulo mostra que as mulheres estão herdando os carros e a função de seus maridos taxistas mortos.
Segundo dados do sindicato, há cerca de 5.000 mulheres dirigindo táxi na cidade de São Paulo. Dez anos atrás, esse número não chegava a 500.
Já os homens taxistas são 29 mil na cidade, 23 mil deles ligados ao sindicato da categoria.
"Cerca de 70% das mulheres taxistas herdaram os táxis em que trabalham após a morte de seus maridos", afirma Suely Soares de Souza, 42, diretora social do sindicato.
Suely afirma que a maior causa de morte dos taxistas é o infarto, responsável por 50% dos casos. "É uma profissão muito estressante, devido ao risco de assalto e ao trânsito caótico", afirma.
Em seguida, como principais causas, estão assassinato e câncer, com 12% cada um.
No ano passado, 90 motoristas morreram em São Paulo. Pelos números do sindicato, 50 novas mulheres entraram na praça no mesmo período.
Horário flexível
Suely atribui à crise econômica e ao desemprego crescente a manutenção do táxi pela família após a morte do taxista.
"Antigamente, há cerca de dez anos, quando o taxista morria, a família contratava um motorista para tocar o carro. Hoje, a família assume sozinha", afirmou.
Segundo ela, na maior parte dos casos o carro fica com a viúva. Mas muitos filhos, filhas e irmãos também herdam o táxi.
O horário flexível e a remuneração relativamente alta são outros motivos que levam as viúvas à direção. Vera Lúcia Miranda, 48, taxista desde 1990, resolveu assumir o táxi pois poderia conciliar a profissão com a função de dona-de-casa.
"Trabalhando na praça, foi possível levar minhas três filhas à escola, fazer comida para elas e ganhar dinheiro para sustentar a casa", conta Vera Lúcia.
No caso da taxista Ruth Artur Perez, 58, a opção por continuar o serviço do marido foi motivada pela dificuldade financeira.
Quando seu marido morreu, em 1994, ela se viu sem dinheiro para sustentar a casa e a filha estudante apenas vendendo doces para festas, sua atividade anterior. "A salvação foi pegar o carro."
Para ajudar as viúvas taxistas a pagar as dívidas deixadas pelos maridos, o Sindicato dos Taxistas criou um fundo assistencial. Cada motorista contribui com R$ 6,50 por mês.
Violência
O ano mais violento foi 1995, quando 40 taxistas foram assassinados na cidade de São Paulo, 35 deles vítimas de assaltantes enquanto exerciam a profissão.
No ano passado, houve uma queda significativa, com apenas nove taxistas assassinados.
Neste ano, até junho, seis motoristas foram mortos a tiros em São Paulo. Destes, cinco morreram trabalhando e um durante uma briga em um bar.
Na opinião de Suely, as mortes diminuíram porque os motoristas ficaram "mais espertos", escolhendo melhor os passageiros que entram em seus carros.

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