São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pai passa 14º Dia dos Pais em busca do filho

ROGÉRIO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Este ano, a busca de José Correa Aguieiras, 57, por informações que o levem a seu filho completará 15 anos. Um filho que ele não sabe ao certo se é seu, se poderá ser encontrado ou mesmo se ainda vive.
Zelador de um edifício na rua 15 de Novembro, no centro de São Paulo, Aguieiras tenta provar que seu quarto filho com sua mulher, a faxineira Geralda Cunha Aguieiras, 47, foi trocado no Hospital e Maternidade Paulistânia.
Rogério da Cunha Aguieiras, nascido em 22 de outubro de 1982 e morto depois de 16 dias, seria na verdade filho de outro casal.
Essa crença levou o zelador a iniciar uma batalha judicial pela realização de exames de DNA que indiquem a verdadeira filiação do menino morto.
A primeira batalha foi vencida há três anos, quando Aguieiras conseguiu a exumação do corpo do bebê, determinada pela Justiça.
Duas dores
A desconfiança quanto à verdadeira identidade do menino apontado como seu surgiu apenas depois de ele morrer.
Durante inquérito para apurar as causas da morte de Rogério, a dúvida tornou-se quase uma certeza.
O obstetra Spencer Sydow Sobrinho, responsável pelo parto de Geralda Aguieiras, declarou à Justiça que a mãe do menino morto tinha a mesma anomalia da criança: seis dedos em cada mão.
A mulher de Aguieiras não tem essa característica, o que foi registrado por um laudo do IML (Instituto Médico Legal).
O zelador sentiu-se como se sua mulher tivesse dado à luz dois filhos, ambos perdidos. "Passei a ter duas dores: uma pelo menino que morreu e outra pela troca."
Segundo Aguieiras, sua mulher se conformou. Seus três filhos, Roberta, 27, Marcos, 24, e Maria Augusta, 22, acreditam que o bebê morto era o irmão legítimo.
Mas o pai pretende continuar à procura de uma prova mais concreta. "Eu busco a verdade", diz. "Eu vou lutar a minha vida inteira, enquanto puder."
Encontro
Aguieiras, paulistano que estudou apenas até o 4º ano primário e ganha R$ 300,00 por mês, iniciou sua batalha judicial sozinho.
Segundo ele, um advogado poderia impor um acordo que levasse a uma indenização, o que não é o seu desejo. Aguieiras diz querer apenas saber o que realmente aconteceu com seu filho.
Ele admite que a possibilidade de conhecer o hoje adolescente que teria sido trocado é remota, pois o hospital foi fechado, e a documentação relativa ao nascimento da criança desapareceu.
Mas ele sabe o que fará se esse encontro acontecer um dia. "Quero que seja junto com a minha família", diz. Na sua opinião, a aproximação não seria nada fácil. "Eu não posso chegar, simplesmente, e dizer: 'Você é meu filho'."
Se o garoto foi levado por uma família rica ou se está no exterior são coisas que, para ele, não importam muito. "Como pai, eu espero que ele esteja sendo tratado como se fosse na minha casa."
Para visualizar a aparência do menino, Aguieiras tem uma referência próxima. "Eu o imagino pelo rosto do meu filho (Marcos)."
Exames
O material exumado há três anos, hoje mantido em Ribeirão Preto, é a única pista para que Aguieiras consiga esclarecer o que aconteceu em outubro de 1982.
Ele não sabe se os restos mortais permitem a identificação por DNA, mas quer tentar. Pretende comparar o material genético do bebê, seu e da sua mulher.
O zelador tenta conseguir do poder público a realização dos exames -que somariam R$ 22 mil. Sua esperança hoje é o IML de Brasília, cuja decisão, segundo ele, deverá ser tomada em quatro meses.
Ele diz que aceitará se o resultado comprovar que a criança era mesmo sua. "Vou me sentir melhor por saber a verdade."
Mas, enquanto restar a dúvida, José Correa Aguieiras seguirá imaginando o destino de um filho que ele não conheceu, não sabe se existe, mas do qual sente falta.

Texto Anterior: Presidente do Cremesp faz crítica a convênios; Tese analisa traumas por meio da ecografia; Mulher cardíaca tem tratamento mais 'leve'; Saúde ocupacional terá congresso em SP; Aumentam casos de tuberculose na Rússia; APCD dispõe de serviço de implante de dentes; Livro diz que doenças elevam risco da Aids
Próximo Texto: Médico quer coquetel no início de terapia
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.