São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997
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Médico quer coquetel no início de terapia

LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

O coquetel de drogas anti-Aids deve ser usado imediatamente após o portador do vírus descobrir que tem o HIV -mesmo que não apresente sintomas da doença e que suas células de defesa estejam em um nível considerado normal.
A defesa dessa terapia -contestada pela maioria dos infectologistas brasileiros- é feita por Paul Volberding, diretor do centro de Aids do Hospital de São Francisco (Califórnia, EUA), que veio ao Brasil para participar de uma conferência sobre terapias anti-HIV, no Rio de Janeiro.
O hospital trata cerca de 2.000 portadores e doentes de Aids com o coquetel (leia texto nesta página) há cerca de um ano e meio.
Segundo Volberding, cerca de 75% dos portadores do vírus da Aids assintomáticos tratados com o coquetel continuam sem apresentar os sintomas da doença.
"É baseado nesses resultados que eu aconselho o uso da terapia tripla desde o início. Apesar de ainda não haver pesquisas que provem isso, parece óbvio que evitar que o vírus HIV se desenvolva quando a quantidade dele ainda é pequena no organismo é mais fácil do que o contrário", disse Volberding à Folha.
Brasil
O Ministério da Saúde começou a distribuir o coquetel de drogas em janeiro deste ano. Mas ele é receitado apenas para os pacientes com menos de 500 CD4 (células de defesa) por ml3 de sangue. Uma pessoa normal (ou às vezes um portador do vírus sem sintomas) tem cerca de 1.000 CD4/ml³.
Essa norma foi estabelecida porque houve um consenso entre os infectologistas brasileiros de que ainda não existe evidência científica suficiente de que o tratamento imediato do vírus com as drogas prolonga a vida do paciente.
Outro argumento desses médicos é que o uso precoce dessa medicação pode elevar a resistência aos remédios e, no momento em que eles ficarem doentes, não terão mais ao que recorrer.
Volberding não nega que há o risco do surgimento da "resistência cruzada" (a várias drogas). "Essa possibilidade existe e me preocupa. Mas sabemos tão pouco dele como sabemos pouco dos benefícios de um tratamento precoce. Além disso, novos medicamentos estão surgindo todo dia", diz.
Segundo o médico, outro fator que colabora para reforçar a tese de que tratar antes é melhor são alguns resultados negativos obtidos com a terapia em pacientes que estão em estágios mais avançados da infecção.
Cerca de 50% dos pacientes tratados no Hospital de São Francisco com o coquetel tiveram algum tipo de melhora. "E a maioria dos que não melhoraram já estava com uma alta carga de HIV", diz Volberding.

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