São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997
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Filhos têm hora apropriada para revelações

AURELIANO BIANCARELLI; LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem todas as coisas devem ser ditas aos filhos. Democratizar a informação às vezes alivia a consciência do pai, mas pode significar um peso para a criança.
"A tendência de proteger os filhos, não contando ou adiando esse momento, pode ser adequada em alguns casos", diz o psicoterapeuta Luiz Cuschnir. "O 'sincerismo' pode prejudicar o filho."
Os especialistas dizem que há um momento certo para contar os fatos e que a hora exata dependeria de cada caso.
Um pai separado esconderá a camisinha da filha de sete anos. "A erotização precoce da criança não é saudável", diz o psicólogo Sócrates Nolasco.
Se o filho tem 13 anos, descobrir que o pai usa preservativo terá um outro significado: ele saberá que o pai está tomando cuidado nas relações.
O momento de dizer e o que dizer atormenta os pais. "Eles têm muita vontade de deixar de ser o super-homem. Querem um filho para compartilhar os fatos, mas não sabem quando fazer isso."
Muitos percebem que certas informações podem perturbar os filhos. Pais que bebem em excesso, que usaram ou usam drogas, que fizeram opção sexual não-convencional, temem que os filhos se sintam traídos ou procurem imitá-los.
"Em alguns casos, o filho se revolta a tal ponto de usar a informação para destruir a relação do casal ou denegrir a imagem do pai", diz Cuschnir.
Revelar fatos fora de hora, em lugar de criar uma relação de cumplicidade, acaba por destruir uma imagem de pai forte que o filho ainda necessita.
O psicólogo Esdras Vasconcellos diz que, ao chegar na adolescência, o filho deve ser informado dos problemas do pai. "Saber a verdade vai capacitá-lo a lidar melhor com a realidade", diz.
Para um filho adolescente, é sempre melhor saber do pai que ele é homossexual, por exemplo, do que arrastar essa dúvida. "Informado, ele aprenderá a lidar com essa nova imagem do pai."
(AURELIANO BIANCARELLI e LUCIA MARTINS)

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