São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SP tem 8,3% mais mulheres que homens

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Há 393.122 mulheres a mais do que homens no município de São Paulo. Embora a diferença percentual de 8,3% seja inferior, por exemplo, à do Rio (13%), trata-se do maior "excedente" feminino do país numa só cidade.
Boa parte delas mora nos bairros mais ricos da capital. É no Jardim Paulista que há a maior defasagem: 36,3% mais mulheres. Em outras palavras, pouco mais de 8 mulheres para cada 6 homens. Os números são do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Isso não significa que as duas a mais tenham "sobrado" durante toda a vida. A maioria já teve um parceiro, mas ele morreu.
Segundo os especialistas, a chave para explicar essa diferença entre os gêneros é a estrutura etária. Na média, a população dos bairros ricos é mais velha do que a dos pobres. E a vida é em geral mais longa para as mulheres.
O demógrafo José Marcos Pinto da Cunha, do Núcleo de Estudos de População da Universidade Estadual de Campinas, diz que as famílias mais ricas têm menos filhos e, em geral, estão num ciclo vital mais adiantado. Ou seja: há mais pessoas idosas em casa porque os filhos já cresceram e se mudaram.
A soma desses fatores é uma das explicações para o maior contingente feminino em distritos como Consolação (30,8% mais mulheres), Pinheiros (28,7%), Vila Mariana (25%) e Itaim Bibi (24,4%).
O médico Marcos Drumond, do Programa para Aprimoramento das Informações sobre Mortalidade (Pro-Aim) da Prefeitura de São Paulo, agrega outras hipóteses para explicar a razão pela qual, na periferia, essa diferença é menor.
"As mulheres nos bairros pobres morrem mais cedo do que as das regiões centrais porque estiveram sujeitas, ao longo da vida, a um desgaste maior", afirma, numa referência à necessidade de elas trabalharem em ocupações que exigem esforço físico.
Essa mesma explicação serve também para a diferença de mortalidade entre homens e mulheres das regiões mais ricas.
A população idosa feminina atual viveu sua idade ativa (dos 15 aos 65 anos) numa época em que o trabalho da mulher era menos comum do que é hoje. Assim, os homens seus contemporâneos estiveram submetidos a um desgaste maior.
É o que mostra o Pro-Aim. O risco de morte entre os homens com mais de 65 anos é maior do que entre as mulheres da mesma idade. Em 94, de cada mil idosos homens, 10,2 morreram de infarto, 6,5 de derrame e 5,4 de pneumonia e outras infecções respiratórias. Para as mulheres, as três principais causas de morte foram as mesmas, mas com menor frequência.
Na periferia, diz Drumond, há uma tendência maior de igualdade entre os riscos de morte dos homens e das mulheres por causa da deficiência dos serviços de saúde.
Esse seria um dos fatores que explicaria, por exemplo, porque a diferença entre o número de homens e mulheres é de apenas 2,9% no Jardim Ângela.
Esse é um dos distritos mais violentos da cidade, mas, apesar de os homicídios atingirem principalmente os homens, a diferença entre as populações masculina e feminina é quase três vezes menor do que a média paulistana.
Pela hipótese de Drumond, o que explicaria isso é que as mulheres também acabam morrendo precocemente -não tanto pela violência, mas por outras causas que seriam evitáveis se recebessem um melhor atendimento de saúde.
Há outras explicações, além das diferenças de qualidade do serviço de saúde e da estrutura etária, para explicar o maior excedente feminino nos bairros ricos.
Segundo técnicos do IBGE, outra hipótese é a existência de um maior número de empregadas domésticas que moram no emprego nos distritos de classe média e classe média alta.

Colaborou a Sucursal do Rio

Texto Anterior: Filhos têm hora apropriada para revelações
Próximo Texto: Não estou sobrando, afirma professora
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.