São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997
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Não estou sobrando, afirma professora

MALU GASPAR
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando se casaram, elas estavam perto dos 20 anos e não imaginavam que chegariam à terceira idade sem a companhia do marido.
Depois de perdê-los, perceberam que ainda tinham muito tempo e passaram a viver, ainda que sozinhas, um cotidiano agitado.
Adna Helaehil Inserra, 70, Arlette Cângero de Paula Campos, 59, e Maria de Lourdes Morato, 69, estão entre as 8.714 mulheres que "sobram" em Pinheiros (zona sudoeste de SP). Elas moram em Pinheiros há mais de 30 anos.
Mas, para elas, os números não querem dizer muito. "Não me sinto sobrando ou solitária. Cuidando da família, viajando ou estando com as minhas amigas, eu me realizo", diz Adna, que é professora aposentada. Há três anos seu marido está internado. Ela mora sozinha no prédio onde é síndica.
Em seu prédio, Adna contabiliza mais cinco mulheres sozinhas. No bairro, ela diz que já perdeu a conta de quantas são.
Arlette, vizinha de Adna, perdeu o marido 28 anos depois de ter se casado, em um acidente de carro. Desde então, aprendeu a se destacar em ambientes masculinos, como as entidades de microempresários de que faz parte.
"Percebo que aqui no bairro há mais mulheres do que homens, mas nunca tive problemas nessa 'área"', diz. "Eu moro sozinha, não vivo sozinha. Nesses 11 anos, sempre tive namorados e a companhia da família."
Para ela, as mulheres são maioria porque vivem mais. "Na nossa época nos preservávamos e acabamos vivendo mais. Não sei como será com essa geração mais nova, que se desgasta como os homens."
Viaja cerca de quatro vezes por ano, e diz que é "bem paquerada". Mas não pensa em arrumar outro marido. "Depois de 46 anos bem casada, não poderia querer ninguém", diz Maria de Lourdes. Seu marido morreu vítima de derrame cerebral. "Estou bem sozinha."

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