São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997
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Números

RODRIGO BUENO

Os números sempre estiveram ligados com o esporte, expressos em marcas, recordes e placares. Agora, aumentou a interpretação de números por profissionais envolvidos, jornalistas e torcedores. Essa leitura numérica, no entanto, costuma por vezes não traduzir a realidade.
Tornou-se hábito associar a alta média de gols por jogo a um campeonato bem-sucedido.
O raciocínio se baseia na eficiência dos atacantes. Mas pouco se leva em conta a deficiência de zagueiros e goleiros.
Na última temporada, o campeonato europeu que teve melhor média de gols foi o de Andorra, 4,53. Outros dez países da Europa tiveram média superior a três gols por partida.
Será que a quantidade de gols se deve aos poderosos ataques ou às catastróficas defesas? Mais fácil aceitar a segunda.
Os números nos permitem chegar a curiosas verdades. O ataque do Barcelona fez fama ao marcar 102 gols na temporada passada, mas está longe de ser a "potência ofensiva da Europa", sendo superado pelos obscuros Barry Town (País de Gales), o Principat (Andorra) e Zumbru Chisimu (Moldova). Detalhe: esses times disputaram menos jogos que o Barcelona.
Ronaldinho não conseguiu ser o melhor artilheiro da Europa em 96/97; fez 34 gols, mas Bird (Barry Town) e Sukur (Galatasaray) marcaram, respectivamente 46 e 38 vezes.
Andorra, país com a melhor média, tem o pior time da Europa: o Spordany, 22 jogos, 22 derrotas, 23 gols feitos e 137 contra.
E não é a pior defesa do continente -é melhor que o Attila, da Moldova, que levou 141. Fica evidente que o Spordany foi mais responsável pela alta média albanesa do que o Principat, "máquina de fazer gols".
Para não ter que engolir o campeonato de Andorra como o melhor do mundo, é preciso refletir mais sobre as médias de gols por jogo. E interpretar todos os números do esporte de maneira não tão superficial.

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