São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997 |
 |
|
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
TRECHO TRECHO "Por que um país tão rico em recursos naturais e dono de uma das economias mais dinâmicas do mundo evolui com injustiça social tão extrema? Obviamente, os recursos canalizados para a educação e saúde públicas têm sido insuficientes, e as oportunidades têm sido seriamente restritas desde a era colonial, sobretudo no norte do país. Mas o que explica a sequência de decisões de política pública que perpetuou esse quadro de injustiça e carência? Por que as elites que dirigem o país (...) não priorizaram as questões referentes à justiça social? A ausência substancial de instituições políticas democráticas é um fator relevante. Quando as massas não votam, ou quando seus votos não são contados, os líderes políticos tendem menos a reagir a suas necessidades e aspirações. (...) A escravidão é outro fator que pode ajudar a explicar a injustiça social reinante no Brasil, especialmente porque persistiu até 1888, 25 anos depois da emancipação dos escravos nos Estados Unidos e 54 anos depois de acabar no Império Britânico. Muitos escritores (...) já enfatizaram os valores negativos que a escravidão infunde tanto no escravo quanto no senhor: aversão ao trabalho, focalização nas necessidades atuais, desvalorização da educação, enfraquecimento da idéia de comunidade e de responsabilidade social, indiferença por parte do senhor, parasitismo e revolta por parte do escravo. Acredito que o legado cultural da escravidão, para muitos brasileiros cujos antepassados foram escravos, ainda é palpável como uma força que opera em seu interior, levando-os a desvalorizar o trabalho e a educação e a sufocar sua mobilidade ascendente. Acredito que um fenômeno semelhante existe nos Estados Unidos e que hoje constitui maior obstáculo ao progresso dos negros do que o racismo branco (que, segundo dados do Gallup, vem caindo acentuadamente nas últimas décadas), sobretudo para aqueles negros que ainda não escaparam da continuidade cultural da escravidão, segregação e gueto. Mas a principal explicação da extrema injustiça social reinante no Brasil reside, acredito eu, na ausência de um senso de comunidade na cultura brasileira, na falta de identificação dos brasileiros uns com os outros. Esse fenômeno tem raízes ibero-católicas: o Brasil é uma sociedade 'invertebrada', para recorrer à descrição da Espanha feita por Ortega y Gasset." Tradução de Clara Allain "The Pan-American Dream", de Lawrence Harrison, foi editado pela Basic Books. Saiba como encomendar o livro em quadro à pág. 5-12. Texto Anterior: TRECHO Próximo Texto: BRASILIZAÇÃO Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |