São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ondas, templos e sarongue

LUIZ HENRIQUE RIVOIRO

Paraíso dos surfistas e dos vendedores de cangas, Bali é forte também na dança e no hinduísmo
Cigarros com gosto de cravo, cangas coloridas, dançarinas sensuais, ondas maravilhosas. Pode parecer Maresias, mas é Bali. E as semelhanças param por aí.
Cruzar o mundo e aterrissar nessa que é uma das 27 províncias da Indonésia encravada entre o Mar de Java e o Oceano Índico é uma experiência radical, mesmo que você não seja nenhum aficionado pelo surfe, esporte mais popular da ilha.
Com 5.620 km2, 140 km por 80 km, é extremamente fácil conhecer a ilha toda em poucos dias. O primeiro passo é contatar uma agência com um guia -isso pode ser feito do Brasil- ou alugar um carro, na maioria das vezes pequenos jipes com tração nas quatro rodas.
Caso escolha a primeira opção, não se espante ao se deparar, já no desembarque do aeroporto, com um balinês de inglês relativamente compreensível, uma van com ar-condicionado e um motorista que ficarão inteiramente a seu dispor durante todo o tempo.
No segundo caso, é preciso ter carteira de habilitação internacional -os locadores até dizem que não é preciso, mas, caso você seja parado pela polícia, poderá se meter em enrascada-, mapas detalhados, conhecimento de como dirigir com tráfego de mão inglesa, paciência para se virar no trânsito caótico da capital Denpasar e muita sorte para se aventurar pelas perigosas, estreitas e sinuosas estradas da ilha.
Hospedagem e barganha
Normalmente, pela proximidade do aeroporto e da capital, a maioria dos turistas prefere se hospedar em Kuta, praia com ondas regulares, comércio intenso e vida noturna agitada.
Em Kuta, é possível encontrar hotéis e pousadas relativamente bons, com banheiro no quarto, a partir de R$ 15. Alguns quatro estrelas podem ser encontrados a R$ 35 o casal com café da manhã e piscina. Os hotéis mais sofisticados variam entre R$ 100 e R$ 200, mas podem chegar até R$ 1.000, dependendo do tipo de acomodação.
As pessoas preferem Kuta principalmente pela facilidade de acesso à praia, parecida com as do litoral de São Paulo -até mesmo um pouco mais feia- e pela variedade de seu comércio.
No item praia, é um das poucas de Bali que segue o modelo mais conhecido no Brasil. As demais são muito influenciadas pela variação diária da maré e contam com muitas formações de coral, o que dificulta o acesso à pé, fazendo-se necessário o uso de barcos para se atingir pontos para banho e mergulho.
É em Kuta também que se nota com maior facilidade uma das maiores tradições balinesas, a arte de barganhar. Não há como escapar dos milhares de vendedores que seguem e grudam no turista assim que ele põe os pés fora do hotel.
O truque é fazer de conta que não é com você, manter o olhar fixo à frente e tentar não demonstrar interesse nos camelôs de relógios (falsificados), perfumes (idem), cangas, estátuas de madeira, brinquedos dos mais variados tipos, bijuterias de prata, incensos, cigarros, artigos de couro etc. etc. etc.
Caso haja o interesse em comprar algo -e é impossível deixar a ilha sem pelo menos uma bolsa de quinquilharias- a dica é seguir o seguinte roteiro:
1) Procure comprar em lojas, evitando os camelôs. Muitas vezes eles podem mostrar algo e, na hora de passar ao cliente, trocá-lo por um de qualidade inferior.
2) Não aceite de cara o preço inicial, sempre faça uma contraproposta com uma oferta 50% menor que o inicialmente pedido.
3) Jamais demonstre muito interesse. Se após muita barganha, o preço não cair o esperado, simule que vai embora. Fatalmente o vendedor o impedirá e melhorará a oferta.
4) Após fechar o negócio, certifique-se de que o produto escolhido será o mesmo a ser embalado e confira o troco mais de uma vez.
Rumo às praias
Uma vez instalado, o melhor é conhecer as praias próximas. Em Sanur e Nusa Dua estão os hotéis mais sofisticados e as praias com diversas opções de esportes. O mergulho com snorkel é o mais indicado. O alto grau de transparência da água, as diferentes formações de coral e a incrível variedade de peixes faz o mergulhador se sentir em estado de graça. Nessas praias ainda é possível alugar jet-skis, caiaques, banana boat e pára-sea (pára-quedas puxado por lanchas).
Próximo a Kuta fica o paraíso dos surfistas de todo o mundo: Uluwatu. É nessa praia escondida em meio a altas montanhas que existe a maior possibilidade de encontrar algum brasileiro.
Também ali, ninguém está livre dos vendedores. Assim que o turista estaciona, uma das dezenas de mulheres que vendem surfwear o adota e o acompanha durante todo o dia. Não vale a pena estressar, elas só desgrudam quando você acaba comprando alguma coisa.
Mas a conversa é divertida. Algumas delas até arriscam algumas palavras de português, dizem, ensinadas pelo surfista carioca (já morto) Pepê, frequentador assíduo do local.
Subindo em direção ao norte da ilha, o ponto de parada é Candidassa. Local tranquilo, longe da agitação de Kuta e arredores, é recomendado para caminhadas e passeios de barco. A dica é contatar algum barqueiro ao chegar e sair para o passeio pela manhã, quando a maré ainda permite. À tarde, o mar fica muito revolto, dificultando a saída dos barcos.
Cruzando totalmente a ilha, chega-se a Lovina, paraíso dos golfinhos. Nessa praia estreita, de areia escura e cheia de pedras, é possível acertar um passeio imperdível. Logo ao amanhecer, por volta das 6h, pega-se um pequeno barco a motor e parte-se ao encontro dos golfinhos.
São dezenas de animais que, em grupos, brincam ao lado dos barcos. Quando o sol esquenta, lá pelas 8h, os golfinhos se retiram, mas dá para aproveitar e fazer mais um mergulho em mais um dos corais da ilha.
Templos e mais templos
Nesse roteiro pelas praias, depara-se a todo momento com diversos e coloridos templos hinduístas. Apesar de fazer parte de um país muçulmano, Bali consegue manter viva a religião hindu em 95% de seus 2,5 milhões de habitantes.
O complexo de Besaki é o maior deles, localizado no coração da ilha, a 1.000 m de altitude, com 30 diferentes templos distribuídos por sete terraços na encosta de uma colina. Do alto de seus mil anos, ele atrai diariamente milhares de fiéis e visitantes. Como em todos os templos hinduístas, todos os visitantes devem usar sarongues, inclusive os homens. Dá para alugar na entrada dos templos, mas, em todo o caso, é sempre bom ter algum à mão.
Tana Lot, outro templo hindu, fica à beira-mar, no alto de uma rocha. O acesso só é possível na maré baixa. No final da tarde, quando ela sobe mais de 4 m, é impossível chegar até o local.
Dança
Durante a estadia em Bali, o turista acaba se acostumando com os mais variados tipos de sons. A música faz parte do cotidiano balinês e na ilha existem diversos tipos de danças típicas, conhecidas em todo o mundo.
Algumas delas, como o Barong, o Kecak e o Topeng mesclam música ao vivo, teatro, dança, uso de máscaras e fantasias. As tramas se baseiam em clássicos da literatura hindu, como o Ramayana e o Mahabarata. As encenações acontecem em anfiteatros com palcos ao ar livre em horários variados. Ao desembarcar na ilha, providencie o programa em alguma agência de turismo e se organize.
Os espetáculos duram em média uma hora e custam R$ 4. Não dá para perder.

ONDE ENCONTRAR Vôos para Denpasar, Bali, Varig: escala em Johanesburgo (África do Sul) e conexão em Bangcoc (Tailândia). Mínimo de sete dias de permanência, máxima de três meses. U$ 2.914. American Airlines: rota sobre o Oceano Pacífico, saindo de Los Angeles e conexão com outra companhia aérea. Mínimo de dez dias, máximo de um mês. U$ 2.505.

Texto Anterior: Combinação Fatal
Próximo Texto: Descubra o sexo dos signos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.