São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997
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Santa televisão

MARCELO MANSFIELD
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando eu e meu irmão éramos pequenos e a bagunça se tornava incontrolável, minha mãe apelava para a salvação de todas as mães da segunda metade desse século, a babá perfeita, a "flauta mágica", a "santa" de todos os lares: a televisão.
Se ela estivesse com sorte, estaria passando um "Pim Pam Pum" ou um "Jardim Encantado", e nós ficaríamos quietinhos por um bom tempo. Se a sorte fosse nossa, a TV ainda não estaria no ar e, portanto, voltaríamos à bagunça.
Até o castigo depois do advento da televisão mudou: em vez de ficar sentado no canto, a gente ficava sentado em frente à TV, vendo o indiozinho da Tupi, ou o tigrinho da Record até a emissora entrar no ar.
Se, em vez de bagunça, estivéssemos brigando, a punição também se invertia: a televisão era desligada. Mesmo que estivesse no horário do "Zorro".
No começo, a TV ficava na sala de jantar. Tomava, como uma garota mimada, o lugar de seu irmão mais velho -o rádio- na preferência da casa à hora das refeições.
Hoje em dia, até na arquitetura ela influiu, pois não é raro se ver nas plantas dos prédios em construção, seu próprio feudo, a sala de TV. Os mais arrojados e mais abastados possuem enormes "home theaters" onde reúnem a versão século 21 dos antigos "televizinhos" para assistir programas em aparelhos gigantescos.
O engraçado é que, no começo, os televisores também eram enormes caixas de imbuia, cheias de válvulas, verdadeiros armários. De tão grandes, atrapalhavam o vai-e-vem das donas-de-casa.
Tempos depois, um suspiro de alívio foi trazido com a chegada dos portáteis. A partir daí, espalhou-se televisão por todos os lados: uma na sala, outra -portátil- no quarto, uma bem pequena na cozinha e aquela moderninha para a casa da praia.
O cinema, no seu apogeu, construiu verdadeiros palácios para exibição de seus filmes. Algumas dessas salas imitavam catedrais góticas em seus interiores. Pois a TV não ficou atrás: tomou para si um cômodo da casa e o transformou em uma espécie de capela onde, todas as noites, milhares de pessoas, em todo o país, ficam em silêncio, ainda maravilhadas com o encanto dessa santa moderna.
Se a TV tem seu altar, Mario Fanuchi deveria distribuir santinhos onde estaria estampado sua criação mais famosa: o indiozinho da Tupi.
Amém!!!

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