São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 1997
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Luta pela cidadania recebe destaque

DA SUCURSAL DO RIO; DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Políticos e intelectuais presentes ontem ao velório do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, destacaram a luta dele em defesa da cidadania e contra a injustiça social no Brasil.
"Ele foi um grande lutador pelos despossuídos e deserdados. O Brasil, para ele, teria sido outro", disse o presidente nacional do PDT, Leonel Brizola.
João Pedro Stedile, dirigente nacional do MST (Movimento Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), afirmou que "o importante no legado de Betinho é a defesa de valores sociais que constituem uma nova moral".
Já o líder petista Luiz Inácio Lula da Silva, que chegou no fim da tarde, disse que Betinho "virou defensor das liberdades democráticas no país". "Betinho nasceu para ser uma pessoa que lutava incessantemente em defesa da vida", afirmou o ex-presidente do PT.
Por sua vez, o poeta Ferreira Gullar disse que "num país que se caracteriza pelo egoísmo e pela corrupção, Betinho foi exemplo de integridade e seriedade".
"Ele juntou a idéia de caridade, que todo mundo dizia que era assistencialismo, com o conceito de cidadania", afirmou o antropólogo Rubem César Fernandes, dirigente do movimento Viva Rio.
"Até então, essas duas tradições não se comunicavam. Betinho foi um fenômeno de cultura brasileira, muito mais que um fenômeno de política brasileira", completou Fernandes.
Gigante
Para o poeta e produtor musical Wally Salomão, "a grande contribuição de Betinho é que ele não postergava para o futuro remoto a solução da imensa miséria brasileira". "Ele foi um gigante", afirmou Salomão.
Lucinha Araújo, mãe de cantor e compositor Cazuza, disse que "o Brasil perdeu um grande brasileiro". "É mais uma vítima dessa doença maldita. Ele vai fazer muita falta", disse.
Betinho, como Cazuza, que morreu em 1990, sofria de Aids.
A deputada Maria da Conceição Tavares (PT-RJ) estava muito emocionada e se limitou a destacar "a energia que Betinho tinha".
A senadora Benedita da Silva (PT-RJ) salientou o papel de liderança que o sociólogo exerceu.
"O Betinho construiu vários braços. Ele é responsável pela formação de várias lideranças, pessoas que estão na política e em ONGs", disse Benedita.
O jornalista Apolônio de Carvalho disse que Betinho se destacou "em um século turbulento, cheio de violência, mas também cheio de esperança".
"Ele vai ficar marcado na história de nosso país, com uma presença viva, humana e sobretudo combativa", afirmou Carvalho.
Outros depoimentos
Em Brasília, o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB-SP), também destacou o trabalho de Betinho.
"Ele foi o símbolo da paciência em relação à sua doença e da persistência na luta pelas causas sociais no país", disse o deputado paulista.
Para a socióloga Anna Peliano, secretária-executiva do Programa Comunidade Solidária, "o Betinho teve uma importância enorme no Brasil no esforço de trazer a fome para o debate nacional. Foi uma grande força e exemplo, e o trabalho dele vai continuar".
Luto em Minas
O governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo (PSDB), decretou luto oficial pela morte de Betinho, que nasceu no Estado.
Na opinião do governador mineiro, Betinho se destacou pela tenacidade e crença nos ideais de justiça social.
O prefeito de Belo Horizonte, Célio de Castro (PSB), também lamentou a morte do sociólogo.
"Com Betinho, o Brasil aprendeu uma lição fundamental. Que não se combate a injustiça social apenas com discurso e retórica. Betinho saiu a campo propondo ações concretas de cidadania."
O governador do Paraná, Jaime Lerner, destacou o exemplo transmitido pelo sociólogo.
"Betinho fez da vida um ideal de solidariedade. Ao colocar sua luta acima de tudo, até de seu drama pessoal, construiu um exemplo notável para o povo brasileiro."

Colaborou a Sucursal de Brasília e a Agência Folha.

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