São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 1997
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Homenagem a Betinho reúne 500 no Rio

DA SUCURSAL DO RIO

Um "ato de despedida" no qual cerca de 500 pessoas cantaram "O Bêbado e o Equilibrista", de João Bosco e Aldir Blanc, e rezaram o pai-nosso de mãos dadas marcou o velório do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho.
O ato aconteceu às 18h de ontem, na Assembléia Legislativa do Rio (centro). Betinho, que tinha 61 anos, morreu às 21h10 de sábado em consequência de insuficiência hepática. Ele sofria de Aids.
Segundo um dos filhos de Betinho, Daniel Carvalho de Souza, 31, o sociólogo deixou instruções para que não fosse realizada cerimônia religiosa em sua homenagem.
Frei Betto leu o "Sermão das Bem-Aventuranças", do Evangelho de São Mateus, durante o ato. Também falaram parentes dele, o pastor evangélico Caio Fábio e o ex-vereador do PT Chico Alencar.
Em atendimento a outro pedido de Betinho, seu corpo será cremado hoje, às 9h, no cemitério do Caju (zona portuária do Rio). As cinzas serão espalhadas no sítio que ele tinha em Itatiaia, no Rio.
A primeira-dama, Ruth Cardoso, disse que Betinho mostrou que no Brasil existe participação. Ela chegou às 12h40 para representar o presidente Fernando Henrique Cardoso. Ficou 20 minutos na sala da presidência da Alerj com a família de Betinho, e, depois de olhar o corpo rapidamente, saiu.
"Betinho foi meu conselheiro (ele integrou o conselho do Comunidade Solidária, que ela preside), me apoiou no primeiro momento", lembrou. "Depois saiu, mas sempre continuou apoiando nosso trabalho. Mantive com Betinho uma relação sempre muito boa, porque respeitei a posição dele."
Também estiveram presentes ao velório o presidente do PT, José Dirceu, o líder petista Luiz Inácio Lula da Silva, o governador do Paraná, Jaime Lerner, o presidente do PDT, Leonel Brizola, o líder do MST João Pedro Stedile, o teólogo Leonardo Boff, a cantora Beth Carvalho, as atrizes Maitê Proença e Letícia Sabatella, os deputados federais Sérgio Arouca (PPS-RJ) e Maria da Conceição Tavares (PT-RJ) e os poetas Ferreira Gullar e Wally Salomão.
O prefeito do Rio, Luiz Paulo Conde (PFL), que decretou luto oficial de três dias, afirmou que pretende fazer em Laranjeiras (zona sul do Rio) um centro de cidadania com o nome do sociólogo.
Daniel contou que Betinho, em seus últimos momentos de lucidez, ouvia mais do que falava, pois tinha dificuldade para articular palavras. Os últimos dias foram penosos: Betinho, antes de ser sedado, quase não dormia. Era carregado para a sala do apartamento, onde assistia televisão.
"Não adiantava mais ficar em hospital, não fazia mais diferença", afirmou Daniel.
Mas, segundo Maurício Andrade, da Ação da Cidadania, na última quarta-feira o sociólogo chegou a discutir detalhes da campanha de recolhimento de alimentos para as festas de fim de ano de 97.
"Ele nos disse: 'Diminuam as reuniões e façam ações"', contou.
O corpo de Betinho saiu de sua residência, em Botafogo (zona sul do Rio), à 1h30 de ontem, sob palmas de amigos e admiradores, e levado para o salão principal da Assembléia Legislativa do Rio.
Daniel ficou ao lado do caixão até as 3h. Outros parentes do sociólogo, como sua mulher, Maria Nakano, e uma irmã de Betinho, Maria Cândida, só chegaram ao velório de manhã.
Sobre o caixão, foram colocadas uma bandeira do Brasil e uma charge sobre a Constituinte feita por Henfil, irmão de Betinho.
A família decidiu transferir o corpo de Betinho da Assembléia Legislativa para o cemitério do Caju à meia-noite. Durante a madrugada, o corpo seria velado apenas por parentes e amigos próximos.

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