São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 1997
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Fusão provável valoriza ação do Noroeste

VANESSA ADACHI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um banco de porte médio e comportamento até pouco tempo atrás discreto está roubando a atenção dos investidores.
As ações do Noroeste já subiram 193,0% desde o início do ano, muito mais que o índice Bovespa (72,2%) e papéis de outros bancos tradicionalmente mais interessantes, como Itaú (47,9%) e Bradesco (55,4%), segundo dados da Economática.
Mesmo com essa alta, os papéis ainda estão baratos e têm espaço para subir, se comparados ao setor.
Segundo cálculos do analista do Banco Matrix, Helder Soares, o índice preço/lucro do Noroeste está em torno de 6. Bradesco, Itaú e Unibanco têm um índice médio de 12,5 e outros bancos latino-americanos têm índice próximo a 14.
Embora a relação preço/lucro do Noroeste tenha partido de apenas 1,9 há cerca de um ano, de agora em diante a velocidade com que os papéis do Noroeste vão vencer essa diferença está intimamente ligada à estratégia que o banco adotará para ganhar escala.
Ao que tudo indica, os acionistas majoritários do banco já se decidiram pela via mais rápida: uma associação com um grande banco estrangeiro.
Os primeiros a cortejarem o Noroeste foram os gigantes norte-americanos Citibank e Bank of Boston.
Agora o casamento parece estar marcado com o espanhol Santander, um grande "global player" do mercado bancário de varejo. Os desmentidos oficiais do Noroeste sobre a associação não têm convencido o mercado.
O impasse não é privilégio exclusivo do Noroeste. Estende-se a qualquer banco de porte médio.
É preciso ampliar a base de clientes e a capilaridade da rede de agências para concorrer com os grandes bancos brasileiros e também estrangeiros, como indica a compra do Bamerindus pelo HSBC.
"Hoje, bancos como o Noroeste não têm escala e não têm uma gestão tão profissionalizada. No longo prazo, acreditamos que todos terão que ter grande porte. O processo de consolidação é irreversível", diz Helder Soares.
Para o analista do Banco Interfinance, Álvaro Alfonso Mendonça, o Noroeste tem excelente perfil para atrair interessados em compra ou associação.
"O banco tem nome e transmite solidez, qualidades herdadas da sua longa associação com o norte-americano Chemical Bank", diz Mendonça.
Durante anos os dois foram sócios no NorChem, até que o Chemical e o Chase uniram suas operações nos Estados Unidos.
Além de heranças boas, a cisão com o Chemical deixou alguns pesos para o Noroeste.
Alguns exemplos desses pesos seriam as estruturas dobradas em algumas áreas -uma do próprio Noroeste e outra do NorChem- e perda de profissionais responsáveis por operações mais sofisticadas.
Soares, do Matrix, acredita que os rumores sobre o Santander já foram incorporados aos preços das ações do Noroeste.
"Se a associação for concretizada, a ação deve subir mais rápido. Se naufragar, ainda assim a tendência no longo prazo é de alta".
Um volume de créditos ruins muito inferior à média do mercado e suspeitas de que estes teriam sido transferidos para seis empresas agropecuárias controladas integralmente pelo Noroeste teriam afastado pretendentes.
A informação é de profissionais que analisaram as condições do Noroeste em nome de clientes estrangeiros interessados em adquirir o banco brasileiro.
As seis subsidiárias são companhias fechadas e é difícil avaliar o que está dentro delas.
Essa seria também uma das razões pelas quais o Santander estaria demorando a bater o martelo.
Helder Soares, do Matrix, acredita que o banco é totalmente saudável. "O provisionamento para créditos problemáticos é confortável e a alavancagem é conservadora".
O último balancete divulgado pelo Noroeste foi o do primeiro trimestre deste ano, com um lucro líquido de R$ 17,2 milhões, superior aos R$ 14,8 milhões obtidos no mesmo período de 96.
O ativo total do banco também cresceu, de R$ 3,7 bilhões para R$ 5,0 bilhões.
Até a última sexta-feira, o Noroeste não havia publicado o balanço do semestre.

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