São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 1997
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Criando União

CELSO LODUCCA

Vivemos hoje em um mundo neoliberal. Em um final de século 20, com saudade dos séculos passados. A competição desenfreada, e não necessariamente leal, está na moda.
O "cada um por si" (e Deus sabe-se lá onde) é, mais do que nunca, a regra. Quando estamos falando exclusivamente das relações entre empresas, pode ser até que funcione, se bem que a consciência de que se pode ganhar mais junto do que se digladiando vem crescendo ultimamente.
O que parece assustador é quando falamos das relações das empresas com seus funcionários e entre eles mesmos. Tentando evitar a tentação de apontar o caminho da salvação, já que a prática me mostra que se pode chegar onde se quer de diversas maneiras, me parece absurda a forma de administração que leva para dentro da empresa a competição selvagem do mercado.
Tenho dificuldade em concordar com a criação de um ambiente desconfiado, de enfrentamento, defensivo e agressivo, sob a desculpa de "tirar mais" de cada empregado ou área da empresa.
Parece-me insano e míope criar o medo para retirar dele a energia para melhorar o desempenho. É como no futebol: pode-se fomentar a competição entre os talentos, sugerindo que cada um mostre que é melhor do que o outro, ou então dar tranquilidade, segurança e estimular a ação do grupo, abrindo espaços para o brilho pessoal.
Até o Romário percebeu que colaborando poderia ser melhor para ele e para todos (compare o de 94 com o de 97).
Sei que, nos dias de hoje, defender a união, a colaboração e o respeito parece mais frouxo, menos produtivo, quase covarde, enfim menos competitivo.
Mas acho que está na hora de os profissionais se recusarem a ser tratados como bagaço de laranja e de as empresas perceberem que tesão rende mais do que medo e que não gastar seu talento e energia tentando destruir seus concorrentes é melhor para o negócio e, por consequência, para todas elas.

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