São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 1997
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Jorge Furtado apresenta seu oitavo curta

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A GRAMADO

O diretor e roteirista Jorge Furtado é uma das revelações desses 25 anos de Festival de Gramado. Seus oito curtas foram aqui lançados. Dois marcaram época.
"O Dia Em Que Dorival Encarou a Guarda", co-dirigido por José Pedro Goulart, foi um dos vencedores da safra de 1986 que marcou o início da "primavera" dos curtas brasileiros. Nada que se compare ao impacto de "Ilha das Flores". Estrondosamente aplaudido em 1989, colecionou prêmios e se tornou em 1995 um dos cem curtas do século no festival francês de Clermont-Ferrand.
Inserido dentro do núcleo Guel Arraes da Rede Globo, Furtado apresentou em Gramado seu oitavo curta, "Angelo Anda Sumido". O cineasta concedeu à Folha a entrevista abaixo.
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Folha - A apresentação do CD-ROM "Trajetória do Curta-Metragem Brasileiro: Filmografia 1986-1996", dentro do próximo Festival Internacional de Curtas de São Paulo, convida ao balanço da chamada "primavera dos curtas". Como você vê hoje o conjunto daquela produção?
Jorge Furtado - Acho muito boa por sua ousadia, inventividade narrativa, agilidade, variação temática. Há muitos bons curtas, de vários gêneros, de vários pontos do país. Novos diretores, atores, roteiristas. Novos cenários! Parece que isso tudo começa a acontecer com os longas. O retorno financeiro é pequeno, mas fazer curtas ainda é divertido.
Folha - Vários colegas de geração estão estreando no longa (Beto Brant, Carla Camuratti). E você?
Furtado - Fazer um longa deve ser um trabalho duríssimo, e não tão bem remunerado assim. Mostrar e manter os filmes nos cinemas é um trabalho maior ainda. Conseguir dinheiro para fazer um longa parece estar ficando cada vez mais fácil. Conseguir boas histórias continua difícil.
Folha - O último episódio do "Comédia da Vida Privada", "Anchietanos", lembra o seu antigo projeto de longa "A Classe de 1959". Você o adaptou para a TV?
Furtado - Eu, o Carlos Gerbase e o Giba Assis Brasil adaptamos um roteiro que escrevemos em 1994. As diferenças são muitas. Um programa de televisão como o "Comédia" é produzido em um mês, gravado em quinze dias, editado em oitenta horas e vai ao ar três dias depois. Poucos longas levam menos de um ano entre o início da produção e a estréia na tela. Um longa brasileiro de extraordinário sucesso comercial atinge um milhão de espectadores nos cinemas. O programa foi assistido por mais de 20 milhões de pessoas. Um filme é um produto durável. O programa já passou. O diretor, muitas vezes, é dono do filme. O "Comédia" é da Globo.
Folha - Surgiram notícias de que o "Comédia" não emplaca 1998. Você já foi informado?
Furtado - Formalmente, não. Acho que os três anos da "Comédia" deram oportunidade para ótimos atores e ajudaram a ampliar ainda mais o público do (Luiz Fernando) Veríssimo. Só isso já justifica a série.
Folha - Seu próximo projeto é rodar com o Giba Assis Brasil o documentário "O Povo e o Em Nome do Povo". Em que a experiência com as campanhas do PT de Porto Alegre contribuiu para o enfoque?
Furtado - Só o que está definido é o tema, as imagens do povo na televisão. Nossas campanhas para o PT nos deram algumas idéias. Há um parecer de um juiz, na campanha de 1994, em que proíbe "as pessoas do povo" de participarem do programa eleitoral. É um material bem interessante.
Folha - E o seu novo projeto de longa é mesmo "O Homem Que Copiava"?
Furtado - O roteiro ainda não está pronto. É a história de um garoto que opera uma máquina xerox numa banca de revistas de subúrbio. Sua única diversão é ler os textos que copia. Ele desenvolveu uma estranha cultura geral: sabe muito pouco sobre muitas coisas.

O crítico Amir Labaki viajou a convite da organização do festival

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