São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 1997
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Contrato muda para tentar evitar fraude

LUIZ ANTÔNIO RYFF
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Para tentar diminuir as possibilidades de subfaturamento e fraude em contratos de shows internacionais, o Ministério do Trabalho estuda uma mudança na concessão de vistos para os artistas que se apresentam no Brasil.
Pela proposta, que será votada nos dias 20 e 21 deste mês, as produtoras de espetáculos culturais terão que apresentar contratos de prestação de serviço com os artistas estrangeiros e não mais, como ocorre atualmente, contratos de trabalho.
Segundo Léo Cinelli, chefe da Coordenação Geral de Imigração, em um contrato de prestação de serviço todos os custos do produtor -como passagens aéreas, transporte e hospedagem-, deverão constar do valor final do documento.
"Os contratos de prestação de serviço sofrem uma maior incidência de impostos e também são mais fáceis de controlar", afirma ele.
Cinelli diz que a lei brasileira é omissa nessa questão, já que ela não especifica se o contrato com os artistas internacionais deve ser de trabalho ou de prestação de serviços.
É essa a brecha que a Coordenação Geral de Imigração -o órgão que concede o visto de entrada para os artistas e é subordinado ao Ministério do Trabalho- pretende aproveitar para mudar as regras do jogo.
É a coordenação que recebe o contrato e o valida no Brasil, embora não tenha poder de veto. "É um acordo entre duas partes, contratante e contratado", explica Cinelli.
O chefe da Coordenação Geral de Imigração afirma que acredita que, no exterior, os contratos fechados com artistas sejam de prestação de serviços e que, para o Brasil, eles venham na forma de contratos de trabalho -com um valor inferior.
Artistas e desportistas
Ocorrendo a alteração, ela será válida para os contratos de artistas e esportistas estrangeiros que venham se apresentar rapidamente no país.
"Isso vai tornar mais transparente o processo e dar maior possibilidade de controle sobre os contratos dos artistas e desportistas que venham ao país para apresentações", diz Cinelli, que afirmou já ter recusado contratos com valor muito baixo.
A decisão será tomada nos dias 20 e 21, em Brasília, durante uma reunião do Conselho Nacional de Imigração, que reúne representantes de sete ministérios (Trabalho, Relações Exteriores, Justiça, Agricultura, Ciência e Tecnologia, Saúde e Indústria, Comércio e Turismo).
O conselho também tem um representante da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), quatro representantes dos trabalhadores e quatro dos empregadores.
Multa
Conforme revelaram reportagens publicadas na Folha, a Receita Federal está investigando os contratos de shows internacionais ocorridos no Brasil.
A suspeita da Receita é de que tenha ocorrido subfaturamento e fraude fiscal.
Recentemente, o fisco aplicou uma multa na Dell'Arte, a mais importante organizadora de espetáculos de música clássica no país, em R$ 280 mil.
A Dell'Arte foi autuada por "omissão fiscal" relacionada a uma apresentação do tenor espanhol José Carreras.
Carreras foi a estrela da badalada festa de centenário do teatro Amazonas, em Manaus, no ano passado, que teve, na platéia, o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Além disso, o fisco considera que contratos obtidos pela Folha -entre eles o dos Rolling Stones, o do Kiss, o de Laura Pausini e o do Deep Purple- apresentam "valores inexpressivos" e têm "indícios de subfaturamento".
Na sexta, a Folha revelou que o Balé Kirov, um dos mais afamados do mundo, teria se apresentado no Brasil por R$ 12 mil.
Isso representaria uma quantia de R$ 86,33 para cada integrante da companhia, valor que se encontra perto da média de preços pagos pelos espectadores pelos ingressos para o espetáculo (que custaram entre R$ 55 e R$ 180).
Para a Receita Federal, o setor de jogos e diversão, como o de shows, pode servir para lavagem de dinheiro.

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