São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 1997
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Olodum estréia com sucesso e faz piadas de cunho racista

Diretor da montagem acha polêmica do desconto positiva

PAULO D'ANTÃO
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Negros, brancos e mulatos foram ao Cabaré dos Novos, no teatro Vila Velha, em Salvador, neste final de semana, para ver a estréia da mais nova peça do Bando do Teatro Olodum, "Cabaré da Raça", dirigida por Márcio Meirelles e Chica Carelli.
Em uma decisão polêmica dos diretores da peça, o espetáculo, que discute a questão racial, teria meia-entrada para negros ou para quem se admitisse negro na bilheteria.
Em seguida, a direção do Bando de Teatro Olodum recuou e decidiu estender o desconto de 50% para todas as pessoas que comparecessem ao espetáculo.
"Márcio Meirelles viajou na maionese", disse o diretor do Olodum, Tita Lopes.
Polêmica positiva
Meirelles, no entanto, considerou positiva toda a polêmica criada. "Conseguimos levantar a questão do racismo. É hipócrita dizer que somos um país de mestiços", disse.
Em Salvador, segundo ele, 85% da população é de negros. "Mas o teatro baiano tem somente 1% de público negro", afirma.
Questionado se levaria o espetáculo para as praças públicas, Meirelles disse que "o povo deve vir ao teatro e não o teatro ir até o povo."
Em sua defesa, a turba do movimento negro, entre eles Vovô, presidente do bloco Ilê Ayiê, foi à estréia e adorou a peça.
Vovô é considerado radical em questões de negritude, já que o Ilê não admite brancos em seu quadro, mas aceitou a idéia da meia-entrada.
O fato é que com meia-entrada para todos, e não somente para negros, o teatro, cuja a capacidade é de 80 pessoas, teve casa cheia. Muita gente ficou do lado de fora (e não viu a peça) ou em pé.
Nudez
Interativa, o "Cabaré da Raça" apresenta diferentes facetas da questão racial no Brasil, discutindo inclusive o mito "de que o negão é bom de cama". Durante o espetáculo, negros ficam nus em cena e questionam a virilidade masculina.
A peça arrancou risadas de espectadores brancos, ao contar piadas de cunho racista como "branco correndo é atleta e negro correndo é ladrão" ou a do ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, de que o Brasil gosta de dois pretos: asfalto e Pelé.
A peça continuará a ser apresentada de quinta a domingo, às 21h. A partir da próxima semana, o espectador pagará entrada inteira (R$ 10).

O que: Cabaré da Raça
Onde: teatro Vila Velha, no Cabaré dos Novos, bairro Campo Grande, centro de Salvador
Quanto: R$ 10
Quando: de quinta a domingo, às 21h

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