São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 1997
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TV pública dos EUA exibe 'Hoop Dreams' feminino

ESTHER HAMBURGER
EM AUSTIN (EUA)

"Girls Like Us" (Meninas Como Nós) é o documentário que ganhou o grande prêmio no Sundance Festival deste ano. Trata-se de mais um filme tipo "subjetivo", ou "antropológico", estilo que marca a produção norte-americana contemporânea e cujo exemplar mais conhecido talvez seja "Hoop Dreams", trabalho sobre a vida de dois meninos jogadores de basquete, moradores do gueto em Chicago.
Contrapondo-se ao estilo clássico de documentário sobre grandes datas ou grandes personagens, a idéia aqui é que o filme retrate não momentos especiais na vida de pessoas famosas, mas o dia-a-dia na vida de pessoas comuns. E, como não poderia deixar de ser no país do politicamente correto, gênero, raça e etnia são variáveis privilegiadas. E, para ser redondamente coerente, as características dos diretores devem coincidir com as das pessoas retratadas.
"Girls Like Us" foi dirigido por duas mulheres, Jane Wagner e Tina Difeli. Para enfatizar a intenção de produzir algo pessoal e a disposição de não se esconder atrás de uma narrativa fria e descomprometida, as diretoras são as primeiras personagens a surgir no vídeo.
Essa ênfase na explicitação da presença de um diretor autor que define enquadramentos e enfoques, não elimina a pretensão de neutralidade que as convenções do documentário clássico procuram construir. De frente para a câmera, no melhor estilo notícia, as diretoras explicitam os princípios que nortearam seu trabalho: o desejo de penetrar a vida dessas meninas sem julgar suas opiniões e ações.
O filme é o resultado de quatro anos de acompanhamento do cotidiano de uma negra, uma nisei, uma ítalo-americana e uma branca residentes na Filadélfia.
Para enfatizar ainda mais a intenção de produzir algo pessoal, as diretoras dispensam a voz de um narrador externo. Elas registram com a própria voz sua convivência com as estrelas de seu filme, cidadãs comuns, residentes em bairros pobres de uma grande cidade da costa leste norte-americana.
O resultado transmite a surpresa das diretoras diante da enorme distância entre intenção e gesto, discurso e prática, racionalidade correta, socialmente esperada e comportamento adotado. Bem diferente dos ideais da liberação feminista, as meninas do filme sonham com o casamento, engravidam por descuido, perdem a perspectiva de ir para a universidade, mas não se arrependem.
O documentário foi transmitido pelo POV (Ponto de Vista), espaço reservado ao vídeo independente na PBS, canal público de TV.

E-mail: ehamb@uol.com.br

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