São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 1997
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As filhas do povo

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Estão fazendo marola contra Débora Cristina de Moura Rodrigues, a moça do MST que vai posar nua para a revista "Playboy". Acham que a militante, pela nobreza da causa que abraçou, não deve dar essa colher de chá à burguesia e ao capitalismo selvagem que se distrai em ver peladas as filhas do povo.
Vamos com calma. Santa Maria Egpcíaca queria atravessar um rio, o dono de um barco exigiu o preço de seu corpo, ela topou, ofereceu sua nudez de virgem ao barqueiro, a Igreja a canonizou, e o poeta Manuel Bandeira dedicou-lhe um poema.
Olavo Bilac fez sucesso com o seu "Julgamento de Frinéia", tema que igualmente inspirou poetas e pintores em quase todo o mundo. Na iminência de ser condenada por ter posado nua para Praxíteles fazer uma estátua de Afrodite, o advogado de Frinéia tirou-lhe a roupa no tribunal. Os juízes emitiam a sentença mantendo o polegar para baixo. E aí, "diante do triunfo imortal da carne e da beleza", o polegar dos juízes pouco a pouco foi subindo, subindo, subindo..., e Frinéia acabou absolvida.
Lady Godiva tirou a roupa e passeou a cavalo: tinha também uma causa. Inspirada nela, D. Beja fez o mesmo. E Maitê Proença, que viveu a heroína mineira num projeto meu que resultou em telenovela, arrebentou o ibope na noite em que, nua e encantada, deu várias voltas em torno da pracinha de Araxá.
Nada demais que a moça descole sua granazinha à custa do corpo que Deus lhe deu. Nada tem a ver com a sua posição política. Josephine Baker, a deusa de ébano, tirava a roupa e mostrava suas coxas monumentais, seu corpo colossal nos cabarés de Paris. Com o dinheiro que ganhava, mantinha creches em várias cidades do mundo.
Fornarina, a amante de Rafael, posou com os seios de fora para ele. Foi um escândalo na época. Afinal, Rafael pintava para o papa. Todos gostaram, menos o marido da Fornarina.

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