São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 1997
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Não é o que parece

MARTA SALOMON

Brasília - Das duas, uma: ou o sistema oficial de contabilidade do governo enlouqueceu ou ainda não começou a nova fase do governo -de fazer e acontecer- que o presidente Fernando Henrique Cardoso ostenta.
É o que se conclui da análise dos gastos públicos registrados no Siafi -o sistema de administração do governo federal- entre 1º de janeiro e 15 de julho.
Algumas das prioridades de FHC, inclusive projetos do "Brasil em Ação", carro-chefe da campanha à reeleição, receberam dinheiro a conta-gotas na primeira metade do ano.
O programa de reforma agrária, por exemplo. Recebeu 6,28% da verba prevista para o ano. Contabilizados todos os gastos do Ministério de Política Fundiária, a conta não chegou a 15% do orçamento.
O combate à mortalidade infantil passa pelo mesmo aperto: 12,59% do dinheiro prometido saíram dos cofres da União. Uma situação ainda melhor que a do programa de geração de emprego e renda, que recebeu apenas 2,17%.
E as obras que o presidente anda visitando também estão na penúria? Os números do Siafi mostram que há obras e obras.
Enquanto a modernização do Porto de Santos e a ponte da Ferronorte -ambos projetos ligados ao programa de privatização- receberam no período 70,87% e 36,90% do que a lei orçamentária lhes reserva, a duplicação da rodovia Fernão Dias, na divisa entre São Paulo e Minas, ficou com pouco mais de 26%.
Se a definição do dicionário para a palavra prioridade ainda não mudou, então as prioridades de FHC para o uso do dinheiro do contribuinte seguem esta ordem: pagamento de pessoal, juros da dívida e manutenção da máquina pública.
Em resumo, mais de 90% dos investimentos previstos com o dinheiro do contribuinte e que deverão dar ânimo à campanha eleitoral não tinham deixado os cofres da União até 15 de julho, menos de um mês atrás.
E para quem acha que o aperto é pouco, os técnicos do governo já prevêem que em 98 a situação vai piorar.

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