São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 1997
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Mito floresceu no mundo inteiro

IGOR GIELOW
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de terem alcançado a consagração neste centenário de Drácula, os vampiros constituem um dos mais universais arquétipos da humanidade.
É possível ver relatos de criaturas demoníacas que se alimentam do sangue humano nos altos-relevos assírios do Museu Britânico de Londres (de milhares de anos antes de Cristo) ou em vasos incaicos do Museu Nacional de Arqueologia e Antropologia de Lima (de algumas centenas de anos atrás).
Os chiangshi chineses assombravam camponeses 600 anos a.C. No interior do Brasil, há uma rica linhagem de bichos hematófagos -que desembocam no recente e "trash" chupa-cabras.
Há dezenas de trabalhos acadêmicos sobre vampirismo. "Traité sur les Apparitions des Esprits et sur les Vampyres" (Augustin Calmet, 1751) consolidou as diversas leituras feitas por clérigos sobre o assunto.
Em resumo, o vampiro é um violador do princípio bíblico "sangue é vida", que o Drácula de Coppola repete em romeno na abertura do filme. É o maior ladrão -rouba corpos e almas.
Ao mesmo tempo, provoca admiração. Os astecas sacrificavam suas virgens para o Sol porque acreditavam que o astro (e Deus) se mantinha eterno ao receber os vapores do sangue derramado.
Depois de Freud, chegou-se a uma espécie de consenso de que, na verdade, o que sempre aconteceu foi uma relação de domínio sexual entre vampiro e vítima. Em especial quando as vítimas eram as doces donzelas vitorianas que alimentaram as bestas da literatura romântica barata do século 19.
As mulheres, aliás, são constante na mitologia vampiresca. As lâmias da Grécia Antiga nada mais eram que mulheres-vampiro, metade gente, metade bicho.
E sobram nos autos da Santa Inquisição histórias de bruxas que tomavam sangue de criancinhas, para usar um caso próximo.
Mas permanece um mistério: apesar dos símbolos iguais (sangue, noite, morcegos, mulheres), o vampirismo floresceu em locais de tradições culturais diversas.
O primeiro autor a alinhavar essa miríade de chupadores de sangue foi Montague Summers.
Em 1928, seu "The Vampire: His Kith and Kin" chocou os europeus, em plena febre do expressionismo alemão (que deu ao mundo "Nosferatu", de Murnau, em 22), com relatos da existência de semideuses hindus que saíam à noite, assim como seus pares ocidentais, numa inusitada globalização.

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