São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 1997
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Fazendas de leite 'fecham as porteiras'

SEBASTIÃO NASCIMENTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Pouca competitividade diante do produto importado, altos custos, aposentadoria do pecuarista e mudança de atividade são os principais motivos que levaram 23 fazendas a desistir da produção de leite somente nos sete primeiros meses deste ano.
Todas liquidaram o rebanho, reforçando a tendência projetada em 96, quando mais de dez produtores já haviam desistido.
Os paulistas Cláudio Venanzoni Roberti, 64, de Itapetininga, e João Urbano de Andrade, 42, de Lins, deixaram a atividade "desiludidos e amargando prejuízos".
Já Otávio Dias do Pinho, 80, de Descalvado (SP), se aposentou e nenhum de seus três filhos quis dar continuidade. Também de Lins, Lísias Alcântara trocou a pecuária de leite pela de corte que, segundo ele, dá menos trabalho.
Para Sebastião Beraldo, da Embral, que realizou as liquidações, houve uma maciça transferência de fêmeas leiteiras do Sul de Minas Gerais e de vários pontos do Estado de São Paulo para o Triângulo Mineiro, a Zona da Mata mineira, Nordeste e Goiás.
Assim, segundo Beraldo, o setor não refluiu. "Da nossa lista de 975 compradores, 320 eram pecuaristas que estavam iniciando na atividade leiteira", diz.
Produtor de leite B em plena atividade na cidade de Descalvado (SP), Roberto Jank, concorda com Beraldo. "Em Goiás, Mato Grosso do Sul e agora até na Bahia há crédito barato, e a pecuária realmente vem crescendo", diz.
Entrave ao produtor, diz Jank, é a importação indiscriminada. "O especulador financia o leite em 14 meses, vende o produto aqui dentro e gira o dinheiro. Ele prejudica a pecuária e não ajuda em nada o consumidor", diz.
Mas Cláudio Venanzoni Roberti, que foi produtor de leite B durante 25 anos, com um volume de 1.800 litros/dia, é menos otimista que Beraldo e Jank.
"Infelizmente o pecuarista não está aguentando", diz Roberti.
Os motivos ele credita à defasagem entre os preço e os custos cada vez mais elevados, além da impotência do produtor frente ao produto subsidiado vindo de outros países.

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