São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 1997
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Prazo vence, mas sem-teto não saem

MARCELO OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os sem-teto que participaram da invasão do prédio da Secretaria da Fazenda, na rua do Carmo, no centro de São Paulo, continuam na escola estadual Francisca Teixeira de Camargo, na zona leste, apesar de o prazo dado pelo governo Estadual para que deixassem o prédio ter vencido ontem.
Segundo o acordo firmado entre a ULC (Unificação das Lutas de Cortiços), que organizou a invasão, e o governo do Estado para evitar a reintegração de posse, a escola abrigaria, por três dias, os sem-teto, enquanto o movimento e o governo buscariam uma alternativa melhor de alojamento.
Até agora, passados seis dias, o Estado ofereceu apenas o Cetren (Centro de Triagem e Encaminhamento) - recusado pelos encortiçados.
A ULC alega que o albergue não dispõe de vagas suficientes para as 180 pessoas que estão na escola.
Segundo o Cetren, há somente vagas de albergue, destinadas à população de rua.
Segundo a Folha apurou, não haveria mais vagas de alojamento, como foram oferecidas para os sem-teto desabrigados após o conflito na reintegração de posse no conjunto da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo) na Fazenda da Juta, em Sapopemba (zona leste), ocorrido em maio deste ano.
Cansaço e apreensão
"O Estado dá a entender que quer nos vencer pelo cansaço", disse Ana Maria Longo, uma das coordenadoras da ULC.
Segundo Ana Maria, o Estado cortou, na sexta-feira, a alimentação que estava cedendo aos sem-teto.
"Desde então estamos apreensivos. A gente acha que a polícia pode chegar a qualquer momento."
A bomba d'água da escola não funciona e não é possível encher o reservatório. A água que abastece as torneiras vem direto da rua e chega fraca.
"Como a água é pouca, não é possível ligar os dois chuveiros (um deles instalado pela ULC) da escola e os sem-teto estão sendo obrigados a tomar banho frio.
Para comer, os sem-teto contam com os mantimentos que recebem de várias entidades assistenciais.
A alimentação está sendo preparada em dois fogões domésticos que a ULC conseguiu emprestado. A entidade está tentando obter um fogão industrial.
A Folha tentou ontem um contato com o chefe de gabinete da Secretaria da Casa Civil, Flavio Patrício, que representa o Estado nas negociações com os sem-teto, mas ele não ligou de volta.
Segundo a secretaria, três setores do governo (Febem, Secretaria do Trabalho e Polícia Militar) estão interessados no prédio da escola, o que justificaria a necessidade do Estado de retirar os sem-teto.
A advogada Michael Mary Nolan, que defende a ULC, estuda a possibilidade de uma ação contra o Estado, acusado de negligenciar as cláusulas do acordo.

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