São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 1997
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Cidades periféricas crescem e vida piora

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

O crescimento das cidades periféricas das maiores regiões metropolitanas do país ocorrido nesta década deve provocar uma piora das condições de vida da população que imigrou para essas áreas.
O Censo 96, divulgado na semana passada pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que esses municípios estão entre os que mais cresceram nos últimos anos.
O fenômeno ocorreu em quase todos os Estados, de São Paulo ao Ceará, de Minas Gerais a Goiás (veja quadro ao lado).
As principais causas são a migração de moradores das capitais para as cidades vizinhas (em busca de um custo de vida menor) e o redirecionamento do fluxo de migrantes de outras regiões para a periferia das áreas metropolitanas.
"Em geral, o crescimento das capitais caiu à metade do ritmo registrado na década de 80", diz o demógrafo Celso Simões. O pesquisador do IBGE acrescenta: "Foram as cidades do entorno das capitais que cresceram mais".
As consequências podem variar de município para município, mas, no geral, a tendência tem sido de ocupação de áreas que eram pouco habitadas e distantes dos centros comerciais das cidades.
Vários problemas decorrem disso: um contingente cada vez maior de novos moradores desloca-se para uma periferia sem infra-estrutura urbana, distante do seu local de trabalho e dos serviços públicos.
"Primeiro a demanda popular se estabelece, só então os serviços públicos correm atrás", afirma Simões. O resultado é que aumenta o número de pessoas vivendo, por exemplo, sem acesso a água encanada e esgoto sanitário.
Simões cita dados da Pesquisa Nacional de Saúde e Alimentação que mostram como o saneamento básico pode ser a diferença entre sobreviver ou não para as crianças de periferia.
Pela média brasileira, a mortalidade das crianças com menos de um ano que moram em domicílios com ligações adequadas de água e esgoto é de 29 por grupo de 1.000.
Nos domicílios com ligações inadequadas ou sem nenhum tipo de saneamento, a média da mortalidade infantil sobe para 78 por 1.000. Ou seja, o risco é quase três vezes maior.
A regra vale mesmo para crianças cujas famílias têm a mesma renda. Nos domicílios com renda até um salário mínimo e ligações adequadas de água e esgoto a mortalidade infantil é de 30 por 1.000.
Em casas com a mesma renda, mas sem esgoto, o índice sobe para 86 por 1.000.
O risco é que, diante do crescimento generalizado das áreas periféricas, a mortalidade infantil no país pare de cair no ritmo em que vinha caindo.

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