São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 1997
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Stanley Jordan faz show único no Palace

EDSON FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Essa história de procurar um eixo é antiga. Pois bem, um homem nessa condição se apresenta hoje no Palace. Trata-se do guitarrista norte-americano Stanley Jordan, que vai tocar sozinho.
Sem nenhum disco para promover (o último que gravou foi "Bolero", em 1994), Jordan faz sua sexta visita ao Brasil para reencontrar o que ele chama de espiritualidade da platéia brasileira. O show faz parte do Top Cat Blues Festival.
Falando à Folha por telefone, Jordan disse que sua paciência com as vicissitudes do marketing acabou. Para se recuperar, perambulou por áreas desérticas dos EUA, praticou caminhadas e mergulhou fundo na espiritualidade.
"Eu quase chamo isso de religião, mas essa palavra está muito desgastada. Tudo o que fiz nos últimos anos foi ficar realmente quieto. Voltei aos shows porque descobri que espiritualidade não é só meditação.4 Tenho a responsabilidade de dividir meus talentos com quem possa obter prazer por meio deles."
E, na avaliação de Jordan, nada melhor do que as platéias brasileiras para realçar o momento espiritual pelo qual o guitarrista está passando. "A platéia brasileira admira minha técnica, mas entra em sintonia com a minha espiritualidade. Há muito fogo."
Questões imateriais à parte, Jordan é um guitarrista de jazz que não tem pruridos elitistas e se aventura pelo rock, soul, funk, blues e música erudita.
Ficou famoso pela técnica de tocar com as duas mãos no braço do instrumento, o que permite que ele faça o baixo nas cordas graves, acordes de acompanhamento e solos com as notas mais agudas.
"Sinto-me honrado quando me rotulam como guitarrista de jazz e me colocam ao lado de mestres como Wes Montgomery."
E o ecletismo no repertório não chega à teoria quando o assunto é a fusão do jazz com outros estilos. Sem a mesma virulência de um Wynton Marsalis, Jordan defende a setorização na música e não gosta da tão em voga mistura do jazz com o hip hop, por exemplo.
"Tudo no universo tem de ser coerente e distinto. O jazz tem de manter sua integridade e seus códigos ou não existirá como tal. Pode resultar até em uma coisa melhor, mas não jazz."
Nascido em Chicago, em 31 de julho de 1959, Jordan teve seus primeiros contatos com a música por meio de programas de TV infantis.
No rádio, ouvia música erudita, por influência da mãe e da irmã, ambas pianistas. Chegou a ter algumas aulas de piano.
Começou a aprender guitarra sozinho, mas teve alguns professores. Elroy Jones -que tocou com Thelonius Monk- foi o mais influente deles. O guitarrista diz que as aulas de piano na infância nada têm a ver com a técnica que ele criou para tocar guitarra. "Na verdade, o que me influenciou na hora de experimentar foi Jimi Hendrix."
Estreou no mercado fonográfico em 1982, com o fracasso comercial de "Touch Sensitive". "Magic Touch", lançado três anos depois, levou Jordan ao estrelato.
Seguiram-se trabalhos em que o guitarrista desfilou um repertório que atirava para diversas direções, sem acertar nenhuma na mosca. Essa variedade de repertório poderá ser ouvida no show de hoje, em que Jordan vai tocar clássicos do jazz (como "Autumn Leaves"), do pop ("Eleanor Rugby"), além de explorar os aspectos mais sofisticados do blues.

LEIA mais informações sobre o show
à pág. E-1

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