São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 1997
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'Geração talidomida' é alvo de novo estudo

PAULO HENRIQUE BRAGA
DE LONDRES

Um grupo de apoio às vítimas da droga talidomida divulgou ontem no Reino Unido um estudo que sugere que os efeitos do medicamento podem ser transmitidos de geração para geração.
Por causa do remédio, usado nos anos 60 para combater enjôos de gestantes, várias crianças nasceram com deformidades físicas, como ausência de membros.
O estudo, de William McBride e Peter Huang, da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, foi publicado na revista "Teratogenesis, Carcinogenesis and Mutagenesis".
McBride alertou para os perigos da droga em 1961. Mas sua credibilidade foi abalada porque ele admitiu ter forjado dados de uma pesquisa sobre efeitos de outro remédio, alegando temer "outra talidomida".
No estudo recente, McBride e Huang disseram ter constatado mutações no código genético de embriões de ratazanas grávidas que receberam doses da droga.
O Grupo de Ação Talidomida diz que no Reino Unido há 11 pessoas que nasceram com deformações entre os 380 descendentes das vítimas originais.
Em 1973, o fabricante pagou indenizações de no máximo US$ 100 mil para cada 1 das 458 vítimas da droga.
"O problema não é só o dinheiro. Estamos lutando para que a classe médica admita, mais uma vez, que errou", disse Freddie Astbuoy, presidente do grupo.
Astbuoy, que também tem deformações por causa da talidomida, afirmou que a entidade pretende fazer pressão para ser realizadas novas pesquisas sobre o assunto. Ele disse que o grupo Guinnes, fabricante do medicamento, pode ter de enfrentar "processos milionários" na Justiça se for comprovado que as deformidades causadas pela droga podem ser transmitidas geneticamente.
Em estudos anteriores, cientistas afirmaram que as deformidades adquiridas pelo uso da droga não são transmitidas aos descendentes, segundo Décio Brunoni, 51, professor de genética da Universidade Federal do Estado de São Paulo.

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