São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 1997
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Partido tenta preservar amigo de Lula citado no caso Cpem

Para Bicudo, a intenção é "desqualificar um trabalho sério"

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O empresário Roberto Teixeira, que cede gratuitamente a casa em que mora Luiz Inácio Lula da Silva, tende a não submetido a uma comissão de ética do PT, como recomendara a comissão interna que investigou o caso Cpem.
Na última reunião do Diretório Nacional do PT, sábado passado, a maioria de seus membros cedeu à pressão de Lula e decidiu analisar o relatório da comissão só depois de decidir sobre a procedência ou não de um recurso de Teixeira.
O empresário foi acusado pelo economista Paulo de Tarso Venceslau de pressionar prefeituras petistas a fechar contrato com a Cpem, empresa especializada em arrecadação de tributos.
A comissão interna, formada pelo deputado federal Hélio Bicudo, pelo vereador paulistano José Eduardo Martins Cardozo e pelo economista Paul Singer, recomendara comissão de ética para denunciante e denunciado.
Venceslau não encaminhou recurso contra a conclusão do relatório, ao contrário de Teixeira. Lula, que publicamente não concordara nem com a instalação de uma sindicância interna, passou a trabalhar nos bastidores para derrubar o relatório.
Na reunião do diretório, a direção petista optou por formar uma comissão para julgar o recurso de Teixeira. Se acatá-lo, na prática vai desautorizar o trabalho de investigação interna e submeter somente Venceslau à comissão de ética.
A comissão que pode derrubar a recomendação de comissão de ética para o amigo de Lula é formada pelo deputado estadual paulista Rui Falcão, pelo senador José Eduardo Dutra (SE) e por Tarso Genro, ex-prefeito de Porto Alegre.
Falcão é do mesmo grupo político de Cândido Vaccarezza, o mais ostensivo defensor de Teixeira na Executiva do PT.
Dutra é ligado a Lula. Genro é a alternativa petista a uma eventual recusa de Lula para assumir uma candidatura presidencial. Lula não foi localizado ontem.
Falcão, que internamente questionou a conclusão da equipe de sindicância, negou que vá atender ao pedido de Lula para inocentar Teixeira. "É lógico que para relatar o recuso vamos que ter de fazer menção ao relatório, mas vou trabalhar com isenção", afirmou.
Reação
Bicudo discordou em termos duros da decisão do diretório. "A intenção é empurrar o caso com a barriga ou mesmo desqualificar um trabalho sério e imparcial de nossa comissão", disse.
O deputado questionou outro ponto da solução proposta pelo diretório. "O recurso de Teixeira é incabível porque o próprio diretório poderia rejeitar nossas conclusões e mais incabível ainda é designar uma comissão para analisar o trabalho de uma comissão anterior", declarou.
Lula e Vaccarezza sempre questionaram a abertura da comissão de sindicância e mesmo a composição dela.
O presidente nacional do PT, José Dirceu, negou que esteja em curso uma manobra para beneficiar o compadre de Lula. "O problema é que o recurso só foi entregue na véspera da reunião e não houve tempo para apreciá-lo", disse.
O trabalho da nova comissão vai ser submetido ao diretório petista, que vai se reunir no final do mês no Rio.

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