São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 1997
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Médico tem 3 empregos e ganha R$ 1,3 mil

LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

A maioria dos médicos brasileiros (54%) tem três empregos, trabalha cerca de 12 horas por dia e ganha, em média, R$ 1.300,00.
Esse é o perfil dos profissionais traçado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). A pesquisa teve como base um universo de 183 mil médicos em atividade no país durante os anos de 1995 e 1996.
A média salarial é quase dez vezes menor do que a de um médico nos Estados Unidos ou no Canadá, onde os profissionais ganham entre US$ 10 mil e US$ 15 mil, e igual à média da Argentina.
"A gente sabia que a pesquisa ia mostrar que o médico trabalha muito, mas ficamos surpresos com os salários. São mais baixos do que esperávamos", diz Regina Ribeiro Parizi, vice-presidente do CFM e responsável pelo estudo.
Como consequência dessas condições de trabalho, 96% dos médicos ouvidos pela pesquisa estão insatisfeitos com a profissão, acham que a atividade é muito desgastante e que não apresenta perspectivas de mudança.
O resultado é que 16% têm, além dos seus empregos em medicina, outro tipo de atividade que garante uma remuneração extra. A maioria compra terras ou imóveis para conseguir elevar a renda.
Para piorar, 49% dos médicos estudados têm pelo menos um emprego em regime de plantão.
Grande adesão
"O que não é bom porque indica que as condições de vida do médico não são boas, porque o plantão de 12 horas seguidas é um esquema muito desgastante", diz Regina. Apesar de os médicos estarem desestimulados, o estudo mostra que apenas 0,4% dos formandos abandonaram a profissão. "É incrível porque, apesar de tudo, ainda há uma grande adesão à profissão", afirma Regina.
Outro resultado da pesquisa é a tendência da feminilização da profissão. Ao todo, apenas 30% dos médicos são do sexo feminino. Mas se a análise é feita apenas com os médicos com menos de 35 anos, a maioria é mulher.
"O que mostra que há uma tendência a feminilizar a profissão", diz a coordenadora do estudo.
Hoje, no entanto, a maioria ainda é composta por homens, jovens e que moram na cidade. 70% têm menos de 45 anos e 50% estão localizados nas capitais.
O estudo deverá ser complementado com outro levantamento sobre a formação do médico. Ele está em preparação e deverá ficar pronto ainda este ano.

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