São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 1997
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Querem pegar o Gustavo Kuerten para Cristo

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Tudo bem. A despeito de suas belas pernocas, o tenista austríaco Thomas Muster é enjoado de dar com um gato morto na cabeça até o gato miar.
Tudo bem. Aquela brigalhada entre os jogadores austríacos e a torcida brasileira na disputa da Copa Davis do ano passado ainda está entalada na goela do quarto melhor jogador do mundo.
Mas não há como discordar de Muster quando ele diz que Gustavo Kuerten deveria aproveitar o tempo que anda gastando em autógrafos e entrevistas para se concentrar em jogar tênis.
Qualquer um que saiba o que é um tie-break dirá que, hoje em dia, o nível do tênis jogado pelos dez melhores do mundo requer concentração total. As distrações, por menores que sejam, podem ser fatais.
Sabe também que, se Gustavo Kuerten pretende ficar no seleto grupo dos "top ten", é melhor ir começando a cortar o papo mole com jornalistas e a recusar convites como o do último fim-de-semana, quando assistiu à corrida de Fórmula Kart em Mid-Ohio, a convite do SBT.
Estou sendo rabugenta?
Quem acha que nos distinguimos do resto do mundo pela nossa simpatia e o nosso calor humano dirá que estou...
Ocorre que, no tênis (como, aliás, em todos os esportes que funcionam à base de patrocínio pesado), os tempos do alalaô já eram. Foram enterrados junto com as palhaçadas de Ilie Nastase.
Kuerten e seu técnico Larri Passos começam a armar uma estrutura para proteger o tenista. Sei de colegas que tentaram marcar entrevista e fotos com o tenista durante esta semana de folga antes do US Open e deram com os burros n'água.
Mas não podemos esquecer que, neste país, a carência de mitos é um drama nacional.
A perda de Senna desencadeou uma busca patética. Estamos à procura de um substituto, como se alguém pudesse preencher a vaga deixada pelo tricampeão. Nesse desesperado processo, mídia e a expectativa do público já conseguiram chamuscar a imagem e a autoconfiança de um ótimo piloto, o Barrichello.
Agora tentamos sacrificar um segundo esportista, em início de carreira e cheio de potencial. Pois tomara que ele fique bem longe daqui e das nossas encucações até chegar lá.

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