São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 1997
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Maluf e o ato falho

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Na entrevista que concedeu domingo à Folha, o ex-prefeito Paulo Maluf comete o que pode ser interpretado como um ato falho.
Diz que está em primeiro lugar nas pesquisas para o governo do Estado e, por isso, "os adversários precisam inventar alguma coisa. Foi sempre assim. No passado, eram os fuscas, as flores, as medalhas. Hoje, inventam outra coisa".
Acontece que os fuscas não foram inventados por ninguém. Maluf doou-os, obviamente com dinheiro público, aos 22 jogadores que ganharam a Copa do Mundo de 1970.
Ninguém "inventaram" nada, pois. Os fuscas tinham existência concreta, houve até festa para a entrega, processos na Justiça, recursos para cá e para lá, condenação a devolver o dinheiro, novo recurso e assim por diante.
O ato falho pode estar no fato de que, se Maluf acha que "inventaram" os fuscas (e não houve invenção alguma), pode ser que as "invenções" de hoje (os precatórios, os frangos) tampouco sejam uma invenção. Podem ser irregularidades tão reais quanto a doação de fuscas, um quarto de século atrás.
O problema de Maluf é que pode passar um quarto de século, até um século, e ele não muda. Ou melhor, muda a imagem, paga a peso de ouro o melhor marqueteiro de plantão, troca os óculos por lentes de contato, mas continua igualzinho.
Tudo o que contraria Maluf, mesmo que seja a mais escandalosa verdade, passa a não existir ou, no máximo, vira "invenção" dos inimigos.
Para Maluf, não tem a menor importância o fato de ele ter doado carros com dinheiro público. Ele continua achando normal esse tipo de comportamento.
Como acha normais os frangos, os precatórios. Se não é normal, é invenção dos adversários. Ao contrário dos Bourbons, que não esqueciam, mas não aprendiam, Maluf esquece o que lhe convém esquecer. Mas aprender, não aprende mesmo.

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