São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 1997
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A FRATURA EXPOSTA DO PT

A resolução do governador do Espírito Santo, Vitor Buaiz, de deixar o PT expõe de modo exemplar um dilema que vem se acentuando há anos no partido e agora ameaça a sua sobrevivência, como admitiu o seu presidente, José Dirceu.
De um lado, há os que ainda querem fazer do PT um partido eleitoralmente viável, capaz de assumir funções executivas e de enfrentar com maturidade as frequentes adversidades de qualquer administração.
Do outro lado, uma parcela atuante da base partidária, que aposta na radicalização à esquerda, cobra do partido posições sectárias e empurra a sigla para uma guerra autofágica.
Se é verdade que a direção do PT avalia majoritariamente que o futuro do partido depende de sua capacidade de sair do isolamento e fazer alianças ao centro, grande parte do aparelho petista ainda prega um oposicionismo intransigente, que o inviabiliza como alternativa política.
Enquanto o PT enrosca-se em si mesmo e mergulha nas suas querelas internas, vai perdendo espaço, força e credibilidade aos olhos da opinião pública. Torna-se cada vez mais clara a indefinição do partido em relação ao papel do Estado. Se o governador eleito não foi capaz de gerir o Espírito Santo em sintonia com o seu próprio partido, pergunta-se quais não seriam as dificuldades se o PT um dia chegasse à Presidência da República.
O caso Buaiz é emblemático. O governador recebeu o Estado com praticamente toda a arrecadação comprometida com os salários do funcionalismo. Percebeu que sem enxugar a máquina pública e privatizar algumas estatais estaria impedido de investir em qualquer área. Foi o que bastou para que o ranço corporativo da máquina partidária se lançasse contra ele. O desenlace desse imbróglio lamentável está à vista de todos.
Quem perde, obviamente, é o PT. Mas também a democracia brasileira, que só teria a ganhar com um partido maduro e apto a governar. Infelizmente, não parece ser essa a prioridade da maioria dos petistas.

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