São Paulo, sexta-feira, 15 de agosto de 1997
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Desempregada "dorme" na fila

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

A desempregada Valdicéia dos Santos, 23, está há 18 dias na fila do cadastro de lotes organizada pelos traficantes do complexo da Maré.
Valdicéia paga R$ 150 por mês para morar em um casebre alugado na favela. Ela vive com o marido, também desempregado, e três filhos pequenos.
Desesperada por ter perdido a primeira invasão, Valdicéia decidiu "morar na fila" para não ficar de fora nas próximas invasões.
"Estou esperando. Tenho certeza de que vou ganhar um lote", disse ela, que, acompanhada dos filhos, chega ao terreno às 5h30 e volta para casa à 1h do dia seguinte.
Apesar dos 18 dias de espera, Valdicéia não é a primeira da fila. Já estavam lá o almoxarife João de Oliveira Gonçalo, 23, e a dona-de-casa Vera Lúcia de Souza Pereira, 30.
Gonçalo e Vera esperam há 20 dias a vez de ganhar um terreno. Ela sonha deixar de pagar R$ 200 pelo aluguel de uma casa na rua Larga, na favela.
Motorista de caminhão, o marido de Vera ganha R$ 300 mensais. O dinheiro que sobra após o pagamento do aluguel é gasto em comida para os dois filhos do casal.
"Tenho medo de perder um lote. É a última chance que tenho para ser alguma coisa na vida."
A situação de Gonçalo é semelhante. Ele paga R$ 240 de aluguel e ganha R$ 300 de salário.
Para não perder o lugar, Gonçalo tem a ajuda das pessoas com que convive há 20 dias. "Ficamos amigos. Esse lote vai cair do céu."
(ST)

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