São Paulo, sexta-feira, 15 de agosto de 1997
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Volcker alerta para dependência externa

Crise asiática expõe problema, diz economista

CLÁUDIA PIRES
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise cambial no Sudeste Asiático deve servir de alerta para países que, como o Brasil, têm forte dependência de investimentos externos.
A advertência foi feita ontem em São Paulo por Paul Volcker, ex-presidente do Fed, o banco central dos Estados Unidos.
"Não é um problema imediato para o caso do Brasil, mas é algo a se pensar", afirmou. "Esses investimentos", alertou, "podem se esgotar, como ocorreu também no México."
Volcker, que hoje integra a diretoria do Bankers Trust, banco de investimentos norte-americano, está no Brasil para acompanhar a formação de joint venture entre a empresa Tishman-Speyer -uma das maiores incorporadoras imobiliárias dos EUA- e a Método Engenharia.
Paul Volcker presidiu o Federal Reserve Board (Fed) entre 1979 e 1987. Foi sob sua gestão que os juros dispararam nos Estados Unidos para conter as pressões inflacionárias no país.
A alta dos juros no mercado internacional precipitou a crise das dívidas externas nos países latino-americanos, que "quebrou" o México em 1982 e atingiu em seguida o Brasil.
Além da crise asiática, Volcker está atento às consequências do superdólar -a substancial valorização da moeda norte-americana em relação às da Europa e do Oriente.
"O dólar muito forte me preocupa", afirma. "Nos EUA é possível absorver isso, mas em outros países não."
Volcker tem uma receita para o Brasil. Pare ele, o país deve ter um controle maior sobre seu déficit orçamentário, promover uma economia que não dependa apenas de investimentos estrangeiros e não forçar a queda de suas taxas de juros.
Paul Volcker também diz que a manutenção de taxas de juro baixas deve ser consequência de uma situação bem-sucedida e não a causa do sucesso da economia do país.
"Não se pode fazer as taxas caírem mais do que o mercado pode aceitar. É preciso oferecer condições econômicas para que elas caiam naturalmente."
Para Volcker, o Brasil está no caminho certo, pois possui "governo e plano econômico confiáveis". Segundo ele, o país tem de manter a expectativa de uma estabilidade de preços.
O economista acredita que o país está fazendo progressos. "São três anos de progresso, contra 30 anos de desastre, para dizer o mínimo."
Mas sugere que é possível conciliar inflação em queda e baixos índices de desemprego. "Nos EUA, conseguimos. É claro que o problema brasileiro tem escala maior, mas não é impossível de ser resolvido."

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