São Paulo, sexta-feira, 15 de agosto de 1997 |
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'Para Roseanna' ri da angústia da morte
AUGUSTO MASSI
O registro cômico entra em cena quando ambos se certificam de que existem apenas três sepulturas vagas. Está armado o problema: desde o velho que agoniza no leito de um hospital até a criança que brinca na rua sujeita a um imprevisto fatal, todos passam a ser vistos como concorrentes. A partir de então, o cotidiano de Marcello representa um esforço heróico e insano para impedir a morte dos demais habitantes. Estamos diante do topo do mundo às avessas. Por intermédio de uma inversão de valores, é que compreendemos a importância da vida. Normalmente, queremos evitar ou adiar a morte das pessoas mais próximas. Para isso, chegamos a desejar que outros morram antes em seu lugar. Marcello vive de modo hilariante a situação contrária, sua bondade é produto de um sentimento mesquinho: todos devem viver para que Roseanna morra realizada. O enredo explora até não poder mais essa mistura entre realismo insólito e humor negro. No fundo, é uma forma de domesticar, subornar e rir da morte. Comprovando que o filme está bastante afinado com a tradição cultural italiana. O único desvio de rota fica por conta do desfecho, cuja reviravolta deixa visível o sotaque inglês da produção e do diretor. Destaque para a atuação convincente de Jean Reno. Por vezes, esquecemos que se trata de um ator francês falando inglês e interpretando um italiano típico. O seu físico avantajado e seus gestos toscos auxiliam na composição do personagem, no fundo, uma grande alma. A eficácia da trama depende em parte da sua imensa versatilidade ao passar da truculência cômica para a ingenuidade crônica. Mercedes Ruehl também está revestida da mesma adequação. Às portas da morte, Roseanna permanece cheia de vida. Por trás da máscara trágica da mãe que perdeu uma filha e também está muito doente, ela tece caprichosamente a teia da tolerância, planejando o casamento de Marcello com sua irmã Cecília. Ao contrário do que se divulga, não estamos diante de um filme romântico. O amor respinga apenas em algumas cenas. Mas, aqui e ali, sentimos simpatia pelo modo como os personagens estão aferrados à vida. Fiel ao seu pequeno formato e à simplicidade do argumento, "Para Roseanna" seduz pelas cenas simultaneamente grotescas e inocentes. Filme: Para Roseanna Produção: EUA, 1996 Direção: Paul Weiland Com: Jean Reno, Mercedes Ruehl Quando: a partir de hoje, nos cines Astor, Top Cine 1 e circuito Texto Anterior: 'Em Busca' adapta fábula rural Próximo Texto: Nova Osesp planeja 20 concertos para 97 Índice |
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