São Paulo, sexta-feira, 15 de agosto de 1997
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JFK evitou guerra com soviéticos

Surgem novas evidências

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Documentos revelados ontem por um pesquisador francês mostram que o presidente John Kennedy resistiu a apelos de comandantes militares que queriam invadir Cuba durante a crise dos mísseis, em 1962. Ele evitou, assim, um potencial conflito nuclear entre EUA e União Soviética.
O trabalho de Vincent Touze, publicado pelo "Le Monde", também indica que o presidente cubano, Fidel Castro, fazia piadas durante o desenrolar da crise -um dos momentos mais tensos da Guerra Fria. Anos depois, o dirigente criticou duramente os soviéticos pelo que chamou de "capitulação".
O jornal francês diz que Touze tem o mais extenso material sobre como o episódio foi visto por Fidel e sobre o que aconteceu nos bastidores da Casa Branca.
A crise começou no dia 15 de outubro de 1962, quando aviões-espiões dos EUA avistaram rampas de lançamento de mísseis soviéticos em Cuba. Acabou 13 dias depois, quando o líder da URSS na época, Nikita Khruschov, decidiu retirá-los.
JFK sob pressão
Nas conversas travadas na Casa Branca, cujas gravações deixaram de ser confidenciais em outubro do ano passado, o presidente fica num fogo cruzado entre os comandantes militares, que defendem ação imediata, e assessores civis, que propõem um bloqueio -solução que viria a ser adotada.
"Eu não posso ver outra solução que não seja intervenção direta -já", disse o chefe da Força Aérea, Curtis Le May, ao presidente no quarto dia da crise.
"A opção de menor risco, do ponto de vista militar, se estivermos pensando em proteger a população dos EUA contra um possível ataque, é um ataque aéreo de surpresa, bloqueio e invasão", disse o comandante do Exército, Earle Wheeler.
Três dias depois, quando recebeu uma opinião similar de William Fulbright, presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado, Kennedy respondeu: "Alguns dirão: 'Vamos fazer um ataque aéreo'. Então, as bombas seriam detonadas e explodiriam 15 cidades nos EUA, e eles (os que propuseram a saída militar) estariam errados".
Com o apoio do secretário da Defesa, Robert McNamara, Kennedy anunciou um bloqueio a Cuba. Em 24 de outubro, os navios soviéticos começaram a voltar.
Os trechos de conversas publicados pelo "Le Monde" indicam que o presidente manteve a opção militar aberta até o dia 26 de outubro, mas preferiu a diplomacia. A crise acabou dois dias depois, com o recuo de Khruschov.
Apesar de disponíveis desde outubro, as fitas demoraram a vir a público por dificuldades técnicas. Muitas não foram transcritas e outras são difíceis de compreender.
Fidel
Em Cuba, seis anos depois, Fidel Castro admitiu ter sido ingênuo. "Estávamos na ante-sala do holocausto e fazíamos piadas", disse o líder cubano num pronunciamento feito para o Comitê Central do Partido Comunista, em 1968. O discurso nunca foi divulgado por ser considerado "anti-soviético".
O dirigente cubano disse ter pedido mil mísseis quando um oficial soviético foi a Havana propor o envio das armas. "Imaginem minha reação quando me disseram que instalariam 80", disse ele na ocasião.
Ele também criticou a forma como a operação de transferência e camuflagem das armas foi concebida, acusando os soviéticos de burocratas indecisos.
No discurso, Fidel defendeu a instalação de armas nucleares na ilha e disse que qualquer ataque norte-americano deveria ser respondido com uma ação maciça.
Após a "capitulação" da URSS frente o bloqueio americano, uma nova fase nas relações cubano-soviéticas se inaugurou, disse.

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