São Paulo, sábado, 16 de agosto de 1997
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Programa ensina a lidar com a dor

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um programa para ensinar os profissionais de saúde a lidar com a dor de seus pacientes foi lançado ontem em São Paulo pela Associação Médica Brasileira e pelo Grupo de Dor do Hospital das Clínicas. O objetivo é promover cursos e simpósios em instituições de ensino.
Em outra frente, o Programa Nacional de Educação Continuada em Dor e Cuidados Paliativos -seu nome oficial- prevê a distribuição de material informativo para o público em geral.
O programa nasceu da constatação de que o doente brasileiro está entre os que sofrem as dores mais intensas e os que morrem em maior padecimento físico. Uma das causas é o pouco conhecimento dos profissionais sobre a melhor forma de alívio da dor.
Uma prova da "insensibilidade" dos profissionais é o baixíssimo uso da morfina, o sedativo mais indicado para dores intensas. Pacientes norte-americanos, por exemplo, consomem 500 vezes mais morfina que os brasileiros.
Um documento com esses dados foi enviado dois meses atrás ao Conselho Nacional de Saúde pelo "programa de dor" da AMB. A proposta é implantar programas de educação continuada, rapidamente, enquanto se processam mudanças nos currículos das escolas médicas.
O documento da AMB observa, por exemplo, que os cursos e livros de medicina não dedicam quase nenhuma atenção ao assunto.
"Apesar de a dor ser considerada o maior flagelo da humanidade, pouco se estuda nas escolas de medicina e não há uma única aula em faculdades de psicologia, enfermagem e serviço social", diz João Figueiró, médico do HC e coordenador do programa.
Outro objetivo do programa é chamar a atenção para os cuidados paliativos dados aos doentes que vão morrer. As faculdades não ensinam a lidar com a morte.
Diante do documento, o CNS criou um grupo de estudos que encaminhará propostas aos ministérios da Saúde e da Educação.
"A falha na formação dos profissionais vem sendo resgatada pelos cursos de educação continuada que já acontecem", diz Claudio Fernandes Corrêa, do Grupo de Dor do HC e presidente do 3º Simpósio Internacional de Dor, que acontece nos dias 19, 20 e 21 de setembro, em São Paulo.
O simpósio, que trará 14 especialistas estrangeiros, será um local de reciclagem para os profissionais. A tarde do dia 20 de setembro será dedicada ao público leigo.
O programa de educação da AMB tem o apoio do Ministério da Saúde, da Organização Mundial da Saúde e da Iasp, associação internacional para o estudo da dor. Também a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) vem apoiando o programa.

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