São Paulo, sábado, 16 de agosto de 1997
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ONU adia saída de tropas de Angola

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, decidiu suspender por seis semanas a retirada de Angola das tropas da entidade que verificam o cumprimento do acordo de paz entre o governo e a oposição naquele país e estudar a aplicação de sanções adicionais contra a organização rebelde Unita.
Os 2.650 soldados da força de paz da ONU que ainda estão em Angola vão permanecer até o final de outubro "dada a precária situação" no país, disse Annan. Embora tenha afirmado que "as concessões desanimadas obtidas sob pressão (da Unita) deixaram de ser aceitáveis", Annan só vai resolver na segunda-feira se novas sanções contra a entidade serão aplicadas.
EUA, Rússia e Portugal, países que ratificaram o acordo de paz de Lusaka (Zâmbia), assinado em 1994 pela Unita e pelo governo para pôr fim a 19 anos de guerra civil em Angola, vão se reunir na segunda para discutir as sanções.
O porta-voz do Departamento de Estado, James Rubin, disse ontem que os EUA são favoráveis às punições, mas aceitam um adiamento na sua aplicação se houver consenso nesse sentido. Mesmo o governo de Angola acha difícil implementar as novas sanções e teme que seu não-cumprimento possa desmoralizar a ação da ONU no processo de pacificação do país.
A ONU já impôs embargo de armas à Unita, que não tem sido respeitado, mesmo após Mobutu Sese Seko ter sido deposto do poder no Congo. Mobutu era o principal aliado da Unita e deixava que o território do então Zaire fosse utilizado para o grupo receber seus armamentos.
Entre as sanções que a ONU estuda estão proibir viagens do principal líder da Unita, Jonas Savimbi, e seus assessores e congelar as contas mantidas no exterior pela organização e seus dirigentes.
Segundo Rubin, Savimbi "tem sido um personagem que não tem ajudado nos últimos meses". Durante a maior parte da guerra civil em Angola, Savimbi e a Unita receberam apoio integral do governo dos EUA. Mas após o acordo de Lusaka, a indisposição dos EUA em relação a eles só tem crescido.
A Unita ainda controla a maior parte do território angolano, inclusive as áreas produtoras de diamantes, que são sua principal fonte de receita para sobreviver. Segundo os observadores da ONU, ela não tem desarmado suas tropas como previsto pelo acordo de paz.
Savimbi apresenta razões de segurança para não viajar à capital, Luanda, e participar do governo de união nacional criado em Lusaka, embora alguns de seus assessores tenham assumido postos no ministério e cadeiras no Parlamento. A Unita se recusa, ainda, a transformar sua rádio, A Voz do Galo, numa emissora apartidária.
Uma possível saída para a ONU é impor sanções, mas conceder algumas semanas para checar se a Unita cumpre sua parte no acordo antes de aplicá-las, e alertar o grupo de que será sua última chance.

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