São Paulo, domingo, 17 de agosto de 1997
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MST e UDR disputam poder no Pontal

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO; EDMILSON ZANETTI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PRESIDENTE PRUDENTE

Sem-terra prometem invasão hoje; ruralistas dizem ter arsenal para defender propriedades

EDMILSON ZANETTI
Sob clima de ameaças, MST e UDR prometem travar hoje uma disputa territorial pela supremacia no Pontal do Paranapanema, região de conflito fundiário no extremo oeste de São Paulo. Em disputa está a fazenda São Domingos, em Sandovalina (640 km a oeste de São Paulo), palco de confronto que deixou seis sem-terra feridos a bala em fevereiro.
Apenas uma cerca de arame farpado vai separar ruralistas armados -dispostos a defender a propriedade- de pelo menos 600 sem-terra, que querem discutir, no acampamento Taquaruçu, quando vão invadir a área.
A iminência do confronto preocupa o coronel José Ferreira de Souza Filho, comandante da Polícia Militar de Presidente Prudente, que vai enviar um destacamento para impedir novos choques. Segundo o coronel, haverá policiais entre os grupos rivais.
Além disso, a PM está realizando, desde anteontem, uma operação de desarmamento nas principais estradas de acesso às fazendas em conflito.
A tensão voltou ao Pontal no início da semana, quando o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) anunciou o fim da trégua de invasões e divulgou lista das fazendas visadas. Em três das propriedades citadas -São Domingos, Santa Rita e Santa Irene-, já houve conflitos armados.
A resposta dos ruralistas foi imediata. Sob comando do vice-presidente da UDR, Guilherme Prata, eles começaram a organizar milícias para enfrentar os sem-terra.
Pedindo sigilo, ruralistas dizem ter um arsenal de armas, como carabinas e escopetas, além de cães, coquetéis Molotov -bomba incendiária caseira- e lunetas, para observar os movimentos dos sem-terra na área.
O coordenador estadual do MST Wagner Gomes dos Santos acusa os fazendeiros de contratar PMs aposentados e em férias para fazer a segurança nas propriedades.
O presidente da UDR (União Democrática Ruralista), Roosevelt Roque dos Santos, que vinha com discurso moderado, radicalizou.
"Se as autoridades não exercerem os atos para dar segurança às propriedades, vão abrir espaço para os fazendeiros se defenderem com tudo o que for necessário", afirmou Santos à Agência Folha.
Parentes
Os fazendeiros negam ter contratado seguranças, mas não escondem que houve um reforço, principalmente com parentes.
O vice-presidente da UDR, Guilherme Prata, chamou cinco primos, de Minas Gerais e do Paraná, para permanecerem em sua fazenda, a Concórdia.
Irene Coimbra Jacintho diz que um de seus filhos deixou o emprego, em São Paulo, para ajudar na defesa da fazenda Santa Irene, em Sandovalina. "Minha família não consegue mais ficar tranquila. Estamos dispostos a fazer qualquer coisa", disse Irene.
Além de fazer uma demonstração de força, os ruralistas pretendem realizar um ato político hoje.
A UDR vai montar um palanque para discutir, entre outra questões, a formação de brigadas oficiais, supostamente amparadas por dispositivos da Constituição, para proteger as propriedades.
Está prevista a participação do presidente do Sinapro (Sindicato Nacional dos Produtores Rurais), Narciso Clara, que já solicitou a intervenção do Exército no Pontal.

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