São Paulo, domingo, 17 de agosto de 1997
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Copa sem Brasil é como Fórmula-1 sem Ferrari

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE DOMINGO

Amigos do esporte, o assunto é futebol. No empuxo da onda modernizante que assola o país, crescem as pressões para que o grande circo dos brasileiros tire o pé da lama histórica em que está metido e passe a funcionar segundo regras mínimas de eficiência e gestão empresarial.
O clamor já não é apenas de críticos e jornalistas, como pôde-se observar na noite de quinta-feira, quando o grupo mineiro Skank foi contemplado com a escolha do público nas premiações anuais da tricolor MTV.
O clipe escolhido foi o estourado "Uma Partida de Futebol". Ao receber o troféu, segurando a camisa azul do glorioso Cruzeiro, o líder da banda, Samuel Rosa, fez uma rápida e entusiasmada defesa do projeto de Pelé para mudar o esporte.
O projeto, como se sabe, preconiza o elementar: criação de ligas, transformação de clubes em empresas, fim do passe etc.
Se tantos argumentos favoráveis não existissem, a patética reação do sr. João Havelange ao projeto já deveria ser suficiente para que o Congresso venha a aprová-lo. Tirar o Brasil da Copa é como tirar a Ferrari da Fórmula-1, os EUA do basquete, o sushi do Japão. Uma coisa não pode existir sem a outra.
*
O debate, contudo, parece muito carregado de emocionalismos, o que não é bom para ninguém. Ataques pessoais ao sr. João Havelange não resolverão o problema. Tampouco os comentários descaradamente racistas endereçados a Pelé.
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Já que o assunto é bola, aproveito para meter o pé na seara alheia -a dos cada vez melhores comentaristas da área.
Tenho a impressão de que a chamada crônica esportiva está excessivamente otimista com a seleção e, especialmente, com as novas revelações do futebol brasileiro.
O que tenho visto não me convence tanto. A seleção foi mal na Europa e apenas deu para o gasto na Copa América.
A defesa tem se mostrado fraca. Cafu e Roberto Carlos não superam Jorginho e Leonardo. Goleiro e miolo de zaga... Meu Deus!
No meio de campo, Zagallo vai-se inclinando por uma formação mediana: Dunga (mais velho e errando passes como sempre), Flávio Conceição, Leonardo e Denilson ficam ali com o quarteto de 94.
No ataque, sim, produzimos um jogador nitidamente acima da média. Com Romário a seu lado, teremos uma das melhores duplas da história do futebol mundial. Com Dodô ou Anderson, apenas faremos gols.
Claro que dá para ganhar. Mas pressinto sofrimento à vista.
*
E o Zagallo? Cobra dos jogadores que se dediquem aos amistosos como se fossem jogos oficiais. Mas ele mesmo não segue a receita. Declarou não ter visto nenhum teipe da Coréia. "Se fosse um jogo para valer teria assistido", ressalvou. Se ele não faz o dever de casa, como cobrar?

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